Psicopata Americano

Antes mesmo de terminar a leitura do livro de Bret Easton Ellis, já tinha noção de que era um dos melhores livros que havia lido até então. Poderia entrar no páreo de um acirrado top 10, concorrendo de igual com Alta Fidelidade, Coração Ferido, A Menina que Roubava Livros, No Sufoco ou Noites Brancas (tá. forcei agora.). Como não podia deixar de ser, Psicopata Americano virou filme em 1999. O papel principal chegou a ser oferecido a atores como Edward Norton, Brad Pitt e até mesmo Leonardo DiCaprio, que estava em busca de um papel forte para se livrar do fantasma de Jack Dawson em Titanic. Preocupado com a sua imagem, o ator acabou desistindo e com isso vetou o projeto inicial que tinha a participação de James Woods, Cameron Diaz e a direção de Oliver Stone. O personagem principal acabou nas mãos do baderneiro Christian Bale e este é um dos melhores personagens que o cara já viveu no cinema (se não for também o melhor filme de sua carreira). Além do talento de Bale, os coadjuvantes não deixam nada a desejar. O ator/cantor Jared Leto, Chloe Sevigny (aquela do bolagato sinistro e explicito de Brown Bunny), Reese Whiterspoon e Willem Dafoe dão o suporte para a adaptação do livro de Ellis.

Para quem não tem ideia do tema abordado na adaptação mais violenta, excitante e tensa que já brotou nas páginas desse site (ou seria blog?), o seriado Dexter pode ser uma excelente referência (e se você nunca viu Dexter? comofas?). A série homenageia tanto a história de Patrick Bateman, que a abertura da série é idêntica à introdução do filme. A cor vermelho sangue contrastando com o branco virou uma espécie de assinatura para serial killers. Mas mesmo com outras semelhanças (como a ausência de tato emocional), Dexter Morgan segue um caminho oposto ao de Bateman. Ele é um especialista forense da polícia de Miami e só mata quem merece. Nunca os inocentes. Já Bateman é um yuppie nova yorkino do fim dos anos 80 e gosta de massacrar colegas de trabalho mais talentosos, ex-namoradas vadias (ou não), prostitutas, moradores de rua, gatos, cachorros, idosos etc.

Não me levem a mal, mas a adaptação não chega aos pés do livro. Não estou dizendo que o filme é descartável, que é apenas mais um no meio da locadora. É dos melhores filmes de psicopata que jamais foi feito, conserva vários elementos do original e é igualmente violento, excitante e tenso. Por esse motivo, durante muito tempo se comentou sobre a impossibilidade de retratar um projeto tão perverso e cruel. Diziam que não seria viável, mas a diretora/roteirista Mary Harron peitou o estúdio e conseguiu “amaciar” um pouco a história de Bret Easton Ellis. Provavelmente seria impossível usar todos os detalhes sórdidos do autor, que consegue descrever cenas de sexo de uma forma perturbadora. Igualmente incomodas são as descrições de massacres. E tudo isso ganha um tom caricatural no filme (o que é um mérito da diretora), transformando as obsessões de Bateman em motivo de riso. Nunca na história do cinema existiu um personagem tão narcisista (o cara fica se olhando no espelho enquanto faz um threesome). Bateman (ou Batman) tem uma compulsão por estar sempre bonito, em forma, possuir os produtos das melhores (e mais caras) marcas. É por este motivo que considero o filme indispensável para estudantes de comunicação. Se houver uma descrição melhor do poder da publicidade na mente das pessoas, me avisem por favor.

Dou quatro caipirinhassssssss.