A música do Homem-Morcego


Qualquer pessoa que assiste um filme é capaz de perceber a força que uma trilha sonora tem dentro da narrativa e como é que algumas músicas são as primeiras lembranças que chegam até nossas cabeças quando visualizamos determinada cena. Essa força, essa identidade sonora tão importante é uma das explicações para o fato de que certos diretores só trabalham com determinado compositor. E verdade seja dita: cineasta de verdade sabe que uma boa trilha sonora é essencial para o sucesso do seu filme. Pensando nisso, e para dar o pontapé inicial na nossa rodada de textos homenageando o Homem-Morcego, fui o escolhido para comentar brevemente sobre o trabalho de Danny Elfman e Hans Zimmer nos seis filmes lançados até então.

O que algumas pessoas não sabem sobre Elfman é que ele era o compositor e vocalista da banda de rock Oingo Bongo, ou seja, ele já era um rockstar muito antes de conhecer Tim Burton e firmar uma das parcerias sonoras mais queridas pelo público em geral. O ano era 1985 e Burton se preparava para lançar Pee-wee`s Big Adventure, que acabou marcando o primeiro trabalho conjunto da dupla. Três anos depois voltaram a se encontrar em Os Fantasmas se Divertem, que até hoje é um dos trabalhos mais inspirados de ambos. Para Batman, de 1989, Burton queria que Elfman encontrasse um tema heróico e ao mesmo tempo simples. O músico não só acertou em cheio na hora de montar a música, como também tornou possível levar Michael Keaton um pouco mais à sério, afinal de contas não dava para entender como é que aquele baixinho com cara de cu foi escolhido para interpretar o Batman no cinema. A trilha ainda incluiu temas vibrantes para o Coringa (Jack Nicholson), especialmente numa divertida cena em que o vilão se vinga de um desafeto.

Elfman e Burton abandonaram a série após Batman – O Retorno, de 1992, sendo substituídos por Elliot Goldenthal e Joel Schumacher, respectivamente. Ainda que a genialidade de Burton não seja unanimidade entre os cinéfilos, poucos ousariam dizer que foi uma boa troca. Aliás, Schumacher foi o homem responsável por afundar a credibilidade dos filmes de heróis e do próprio Batman após o sucesso invertido de Batman e Robin, de 1997. Mas como o papo aqui se resume à música, podemos dizer que mesmo não sendo tão talentoso como Elfman, Goldenthal não é desprovido de ouvido e soube aproveitar a atmosfera sonora criada por seu antecessor e o resultado foi um tema mais sombrio para filmes que caminhavam em uma direção oposta. A trilha original acabou ofuscada por conta das canções “Kiss From a Rose”, do Seal; e “Hold me, Thrill Me, Kiss Me, Kill Me”, do U2. Azar o do compositor e sorte do espectador, que ainda teve a chance de dizer que a única coisa boa de Batman e Robin era a música do Smashing Pumpkins.

Foram necessários quase 10 anos para que o nome “Batman” pudesse ser mencionado novamente nos estúdios da Warner Bros. e foi justamente pelas mãos de Christopher Nolan que a franquia renasceu e mudou completamente a maneira de se apresentar o cinema de personagens de quadrinhos. Lançado sem muito alarde, Batman Begins, de 2005, mostrava uma nova visão de Bruce Wayne/Batman e optou por um caminho mais realista. Hans Zimmer, parceiro habitual de Nolan, teve participação importante no sucesso da franquia.

Ao lado de outros compositores, Zimmer relembrou o trabalho realizado nos filmes anteriores e depois jogou tudo fora para começar a pensar no clima do novo Batman e no que funcionaria para Nolan em Batman Begins. Com uma batida inicial que evoca o barulho das asas dos morcegos, o tema principal não chega a superar o que Elfman apresentou em 1989, mas certamente é mais dramático e épico, como a maioria dos trabalhos de Zimmer, que sempre é eclético e revelou ter se inspirado em Verdi e Goldfrapp para escrever o material de O Cavaleiro das Trevas Ressurge.