Resenha: Os Pássaros – Frank Baker

“Os Pássaros, sem dúvidas, é uma das obras primas do diretor inglês que nunca precisará de um remake. Um ícone dos filmes que nos dão medo. Daqueles que, ao final das incontáveis vezes que o assistimos, nos faz perguntar “como diabos foi que ele conseguiu filmar aquilo?”. Não há duvida que a nova tecnologia em efeitos visuais poderia produzir imagens bem mais reais dos ataques daquelas milhares de aves ensandecidas. Mas e daí?


O charme de Tippi Hedren, a câmera que sobrevoa o posto de combustível (simples e, ao mesmo tempo, genial) e o clima de suspense que Hichtcock sabia proporcionar, não são facilmente reproduzidos. Mas o impossível ainda ficaria para o fim: como conseguir repetir o impacto da cena final de Os Pássaros em que, em sua completa quietude, nos força a prender a respiração até os créditos finais começarem a subir?”  (Alexandre Marini)

Bem, seria impossível não começar esta resenha sem citar o motivo pelo qual Os Pássaros não precisa de um remake. E o Alexandre conseguiu explicar isso muito bem em sua lista com os 10 filmes de terror que não precisam nunca de um remake.

“Em um segundo aterrorizante, que pareceu durar por toda a eternidade, percebi tudo o que eu era, tudo o que havia esmaecido para se extinguir em mim. Vi, no fundo das covas daqueles dois olhos mortos, a alma que eu havia expulsado de mim há tanto tempo. E ela era abominável.”

O romance Os Pássaros, de Frank Baker foi lançado 80 atrás e a Darksidebooks trouxe esta obra em uma edição incrível para quem sentia saudade das obras de Hitchcock. Narrado em primeira pessoa por um dos sobreviventes do ataque mortal. Com tamanho detalhe em sua narrativa, somos transportados para uma Londres pré-Guerra pelo olhar de um protagonista melancólico que tenta manter a lucidez em meio a tanta loucura, solidão e conflitos existenciais. Vale reforçar que o narrador, nada mais é que um alter ego do próprio autor, que aborda questões como a bissexualidade, angustia e relação com a mãe ao longo da trama.

“Daquela noite em diante, senti-me oprimido e assustado pela imagem de um pássaro que parecia ter o poder de, a qualquer momento, se materializar no céu em volta de mim.”

Um pouco diferente do filme de Hitchcock, o livro possui alguns momentos carregados, em que o autor faz grandes análises um tanto sem sentido. Em outros momentos, é muito bacana ver sua posição quanto a mídia e sua falta de moral. Um problema do autor, é que ele se empolga ao longo da narrativa e deixa muitas pontas soltas, inclusive a história de alguns personagens que aparentavam ser bem interessantes para a narrativa.

“Então, abri meus olhos e, em uma visão breve e brilhante, eu vi, como havia visto anos antes, a confusão e o horror ocasionados pela decadência de minha civilização. Como uma sombra ao meu lado, o jovem permanecia ali. Através dos seus olhos, vi as pessoas correndo desordenadamente morro abaixo, caindo umas sobre as outras e chorando em seu voo sem sentido. Misturando-se a essa multidão, amontoavam-se as asas negras de um milhão de pássaros, como nenhum pássaro que jamais havíamos visto por aqui”

Sem dúvida alguma, Os Pássaros permanece mais atual que nunca e ainda assim, consegue nos deixar um tanto preocupados, afinal, essas aves (que à primeira vista aparentam ser um tanto inofensivas), representam o demônio de cada um naquela cidade, que acabam se rendendo ao ver a materialização de seus medos se tornando reais.

Eu sempre falo em quase todas as resenhas que faço da Darksidebooks que este livro é o melhor trabalho gráfico, mas que culpa eu tenho se eles sempre se superam?

Em suma, Os Pássaros é um suspense bem diferente dos que estamos acostumados a ler. Baker explora com maestria a época, a cidade e o melhor: as questões existenciais de seus personagens. Esta é uma trama apocaliptica tão pertubadora quanto o filme e essencial para quem curte clássicos!

 

Ficha Técnica:

Título: Os Pássaros
Título original: The Birds
Autor: Frank Baker
Tradutor: Bruno Dorigatti
Editora: DarkSide Books
Número de páginas: 304
Gênero: Ficção inglesa