Conan, o Bárbaro

CONFESSO QUE ESPERAVA ALGO MUITO PIOR. Desde o anúncio do remake de Conan, o Bárbaro a expectativa pessimista dominava a maior parte da imprensa especializada e também dos fãs do filme original, estrelado por ninguém menos que Arnold Schwarzenegger na década de 80. Infelizmente os temores se confirmaram e o filme de Marcus Nispel é fraco. Não chega a ser o pior filme do ano, mas com certeza correrá o risco de ser indicado ao prêmio Framboesa de 2012.

Já na abertura podemos sentir o drama. Em uma (das várias) sequências de luta recicladas de vários filmes que nós já assistimos antes, a mãe de Conan entra em trabalho de parto no meio de uma invasão de um povo inimigo. A dor que ela sentia não parecia impedi-la de empunhar uma espada e desferir golpes em todos que surgissem pelo caminho até que finalmente se deita, mortalmente ferida e anuncia o nascimento do menino selvagem e poderoso. Ron Perlman, interpretando Corin, o líder do bando e pai de Conan, ergue o seu filho num momento similar ao que as crianças assistiram em Rei Leão, na cena do “batismo” de Simba. Nada mais digno que encerrar uma cena de selvageria do que homenagear um filme sobre o mundo da selva e seu rei. Não seria Conan a versão bastarda (e bípede) de Simba? 

Conan, o Bárbaro não fazia parte da minha lista de filmes para serem assistidos esse ano, mas diante a ausência do texto sobre o filme (o que eu até compreendo, tendo em vista o quanto ele é ruim e deve ser mesmo difícil tentar ser imparcial ou escrever alguma avaliação do filme sem ser prolixo e essas coisas todas) nas páginas do Cinema de Buteco, fui obrigado a exercer meu papel de editor-chefe e escrever eu mesmo o comentário. E confesso que não gostei da experiência de perder algumas horinhas da minha vida para dedicar ao Conan, não tão bárbaro. 

Mas será que Nispel fez um filme 100% e sem nada para agradar ao público? Sim, ele fez, mas os fãs do seriado Game of Thrones poderão se alegrar em conferir Jason Momoa em ação novamente. Fisicamente ele tinha tudo para ficar frente a frente com o Conan de Schwarzenegger, mas o roteiro cismou de tentar humanizar o personagem. O grande erro, maior do que a maquiagem ridícula de Rose McGowan como a vilã (que lembra a Maligna do desenho do He-Man), foi essa alteração da personalidade de Conan. Nosso ex-The Governator não precisa se preocupar com o risco de ser substituído na lembrança do público, que mesmo sequelado com a quantidade de remakes, ainda é capaz de saber diferenciar entretenimento de qualidade com o de oportunidade.

O Conan de Momoa é uma mulherzinha perto da performance de Pollyanna McIntosh no thriller The Woman. Aquela irracionalidade que deveria fazer parte da personalidade do Conan de 2011. Seria visceral, selvagem, quase animal. Mas o roteiro ignorou completamente esse detalhe e tornou o brutamontes em uma pessoa inteligente e capaz de formular frases inteiras tão bem quanto decepa a cabeça de seus oponentes. 

Para completar a história, ainda sobrou espaço para investir no romance improvável, tudo com direito a uma cena de amor muito brega (e pudica). Claro que isso (a ausência de cenas mostrando mais de Rachel Nichols e menos do brutamontes) não é motivo para derrubar ainda mais a produção, mas certamente seria motivo para um alívio na barra de Nispel. Porém os problemas se concentram nas batalhas fracas e sem a menor emoção (se Nispel queria imitar Cruzada ou Gladiador, deveria ter feito um curso rápido com Ridley Scott. Quem sabe não aprenderia a filmar uma perseguição de cavalos com o mínimo de tensão?), além de um roteiro fraco e previsível. 

Se fosse um curta-metragem, Conan, O Bárbaro poderia ser um dos destaques da temporada, pois a sequência de abertura é interessante, ágil e mesmo que abuse um pouco da capacidade do espectador em ignorar o óbvio, funciona bem. Mas 20 minutos bons não conseguem fazer os 80 minutos seguintes valerem a pena. 

São… são nada. É uma caipirinha com Chora-Rita. E olhe lá.