Annette: Crítica do Filme

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Annette: Crítica do Filme

Uma das coisas mais incríveis sobre o cinema é como ele nos permite viajar para outros universos, sob a visão de cineastas de variadas partes do mundo. Leos Carax (Holy Motors, 2012) é um dos maiores nomes da atualidade, apesar de ainda ser conhecido somente por um nicho de pessoas. Com Annette (2021), que abriu o Festival de Cannes este ano, isso pode mudar. O diretor uniu, nada mais nada menos, que Marion Cotillard, Adam Driver e Simon Helberg.

Enredo

Henry (Driver) é um comediante e Ann (Cotillard) uma cantora de ópera. Ambos se apaixonam, tornam-se o casal favorito da mídia e do público, e acabam tendo uma filha: Annette. A chegada da menina, junto de seu dom único, transformam a vida de todos à sua volta. Esse é apenas um breve resumo. Não darei mais detalhes porque não quero estragar a sua experiência cinemática. A produção que merece o seu envolvimento total do início ao fim, sem qualquer tipo de pré-conhecimento de detalhes da trama.

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Mais do que uma história de amor

Apesar de, à primeira vista, parecer uma história de amor, Annette é muito mais do que isso. Quem conhece a filmografia de Carax, sabe que o autor costuma fazer profundas reflexões sobre a sociedade, por meio de metáforas e alegorias. Aqui, o diretor faz um mergulho nas almas dos personagens, explorando os seus desejos, medos, paixões e demônios. A cada composição, cenário, olhar, toque e movimento de corpo, captamos os seus sentimentos e nos envolvemos com a história contada.

Por mais que sejam pessoas públicas, sempre nos holofotes e seguidas por paparazzi, Henry e Ann são seres humanos como eu e você. Você os compreende e sofre ao lado deles; apaixona-se pela forma como se olham; surpreende-se com os seus respectivos dons e dedicação ao trabalho. E, é claro, encanta-se com a pequena Annette e o laço que criam com a pequena.

Elenco

O talento do elenco é inquestionável. Porém, Carax conseguiu tirar deles ainda mais do que já havíamos visto em suas carreiras. Simon Helberg é conhecido por interpretar Howard em Big Bang Theory, ou seja, estamos acostumados a vê-lo nos fazer rir. Em Annette, vemos um lado totalmente novo do ator, com emoções à flor da pele e uma intensidade absurda. Cotillard incorpora em Ann toda a sua doçura, leveza e tranquilidade. Não é a primeira vez que a vemos cantando, mas ver a francesa no universo de Carax era algo que eu aguardava ansiosamente e ela não decepcionou.

Agora, Adam Driver. Ele é o grande destaque do musical. O que ele faz na tela em cada cena que aparece é de uma beleza artística inexplicável. Ele consegue ser, impecavelmente, sério, romântico, engraçado e cruel, mostrando as diversas camadas de Henry. E isso é essencial para nos conectar com o enredo. É sempre prazeroso quando um diretor consegue extrair tanto de seu elenco.

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Trilha

As músicas do filme foram compostas pela banda norte-americana Sparks. Aliás, cerca de 95% do longa é cantado, é bom avisar. Então, as composições e melodias são essenciais para narrar a história e transmitir os sentimentos dos personagens. Desde “So May We Start”, na abertura, passando pela forte “We Love Each Other So Much”, e “Sympathy for the Abyss” no final, Sparks nos cativa com a sonoridade e letras. Eu, por exemplo, já ouvi tudo no Spotify várias vezes!

NÃO OUÇA A TRILHA ANTES DE VER O FILME PORQUE TEM SPOILERS. EVITE O TRAILER TAMBÉM.

Veredito

Não sou fã de musicais. Só vejo quando algum diretor ou diretora que gosto muito está no comando, ou algum ator ou atriz que admiro está no elenco. Sou apaixonada pelos recentes Mesmo Se Nada Der Certo (2014) e La La Land (2016) – até hoje me arrepio com a sequência final de ambos os filmes -, mas nenhum deles me emocionou tanto quanto Annette. São histórias completamente diferentes, é claro, só que Carax toca de uma forma muito mais profunda. A visão peculiar de mundo dele, aliada ao desenvolvimento e transformação dos personagens ao longo da produção, mexe conosco de uma maneira que não consigo nem descrever como é. É um conjunto de coisas: fotografia, direção de arte, atuações e música.

Annette veio nove anos após Holy Motors (2012). Demorou, mas a espera valeu cada minuto.

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