Ben Hur

Tudo em Ben-Hur é grandioso. Os 8 mil figurantes, cem mil figurinos, 300 sets de filmagem e 11 Oscars já dão a dimensão da obra, de 1959. Baseado no livro de Lew Wallace, Ben-Hur: A Tale of the Christ é um dos épicos mais famosos produzidos por Hollywood. Dirigido por William Wyler, tem 219 minutos e é uma das grandes produções da MGM.

A história do judeu Judah Ben-Hur é apenas um pretexto para falar sobre a vida de Jesus e o nascimento do cristianismo. Isso sem que Jesus mostre seu rosto em um frame sequer. Ben-Hur é um príncipe judeu que, depois de anos, reencontra o amigo romano Messala, agora oficial comandante das legiões romanas que dominavam a Judeia. A antiga amizade é abalada quando Messala propõe que Ben-Hur traia seu povo. Preso, subjugado e vendido como escravo, Ben-Hur tem como novo motivador a vingança. De forma pontual, Jesus vai aparecendo pelo caminho do judeu. É até curioso pensar que a vingança, que é tão pouco cristã, seja mote de um livro e um filme feitos para exaltar o cristianismo.
Hoje, quando estamos acostumados a tomadas curtas e histórias rápidas, Ben-Hur pode se apresentar como um filme cansativo. Imagine só “perder” seis minutos de filme com uma abertura em que só há o dedo de Deus, de Michelangelo e a música de fundo… E o interlúdio, nos mesmos moldes, com aproximadamente a mesma duração. A história é um pouco arrastada, com cenas muito lentas para os screenagers. Mas mesmo assim, é um filme essencial, justamente por toda a grandiosidade que o envolve.
Um ponto interessante são os poucos movimentos de câmera. Em geral, ela está fixa, apenas observando a ação. Como também era comum na época, a atuação é extremamente teatral, com gestos largos no lugar da emoção mais real, que é praticamente regra nos dias de hoje. O personagem principal desperta empatia. Charlton Heston está adequado, bem humano ao ter, em sua personalidade, a lealdade, a amargura, o rancor e a obstinação bem dosados. É seguro, forte e nobre enquanto ainda tem dinheiro e poder; é magro, maltratado e revoltado quando é escravo; é amoroso e cruel ao mesmo tempo, ao investir em sua vingança.
A cena mais famosa de Ben-Hur é a da corrida de bigas. Ben-Hur conduz a parelha de cavalos brancos e Messala a de animais negros. Uma dualidade que, com certeza, não seria vista com bons olhos hoje. Messala ainda usa artifícios para destruir as bigas concorrentes e é desleal, quase como um Dick Vigarista. Ben-Hur é o único dos nove competidores que não usa capacete. Também não usa chicote, mostrando que é ético até mesmo no trato com os animais. É uma cena longa e muito emocionante. Impossível assistir sem se envolver, sem lamentar as quedas e os acidentes dos condutores das bigas. E, também, sem pensar no trabalho da direção, na condução das filmagens. Tudo isso foi filmado na Cinecittà, em Roma.

Também são famosas as cenas de Ben-Hur nas galés romanas, em guerra. O ritmo das remadas é marcado por um tambor, e os magros e sofredores escravos, aos gemidos, dão conta de movimentar cada barco, acorrentados e ameaçados pelos chicotes dos soldados.

Há uma discussão antiga sobre o possível relacionamento homossexual entre Ben-Hur e Messala, levantada pelo escritor Gore Vidal. Segundo consta, Charlton Heston não aceitaria interpretar um homossexual, então foram feitos ajustes no roteiro.

 

Até 1997, Ben-Hur era o filme com mais Oscars da história do cinema. Naquele ano, Titanic igualou o número. A obra de Wyler venceu nas categorias de melhor filme, diretor, ator, ator coadjuvante, trilha sonora, fotografia, direção de arte, montagem, figurino, efeitos especiais e som. O filme também faz parte de praticamente todas as listas de melhores do cinema, como a dos 100 melhores da Bravo e do livro 1001 filmes para se ver antes de morrer.