Caiu do Céu

caiu do ceu
MESMO SENDO UM DOS MEUS CINEASTAS FAVORITOS, justamente por conta de Cova Rasa, Trainspotting e Por Uma Vida Menos Ordinária terem feito parte das minhas primeiras experiências mais conscientes com o cinema, admito que desconhecia a fábula Caiu do Céu. Uma obra com diversas características marcantes do cinema de Tim Burton (a introdução me deixou curioso para saber se Danny Elfman estava envolvido na trilha, que ficou nas mãos de John Murphy, parceiro de Boyle em outros projetos, como Extermínio e Sunshine – Alerta Solar) e com toda a pegada eletrizante de Boyle.

Caiu do Céu apresenta dois pirralhos, interpretados por Alex Etel e Lewis McGibbon, que encontram uma mala recheada de dinheiro. Inocentemente, os dois irmãos passam a gastar a grana da maneira que lhes é mais conveniente: enquanto um decide pagar uma quantia para ser tratado como rei pelos colegas da escola, o outro acredita piamente que é a reencarnação da Madre Teresa e sente a maior necessidade de ajudar as pessoas próximas. O que os jovens riquinhos do bem não sabem, é que a grana tem dono e ele não está nada feliz em saber que seu dinheiro está sendo distribuído no melhor estilo Bruna Surfistinha.

Quando pensamos em obras estreladas por crianças, lembramos logo dos moleques mais irritantes da história do cinema, como Jaden Smith, na refilmagem de Karate Kid; por exemplo. Talvez seja pela maneira como Boyle conduz a narrativa, mas em momento algum tive impulsos de detestar os jovens protagonistas. Acredito que nem a Larissa Padron, infanticida cinematográfica assumida, sentiria ódio mortal dos personagens Damian e Anthony.

Um pequeno parênteses para comentar sobre um detalhe musical da obra. O Muse criou fama no cinema de uma maneira pouco agradável. Até permitir que “Supermassive Black Hole” entrasse na trilha sonora de Crepúsculo, a banda britânica era praticamente desconhecida do grande público e menos ainda no universo dos cinéfilos. É uma incrível surpresa descobrir que Danny Boyle usou duas faixas do disco Absolution na trilha de Caiu do Céu: “Hysteria” e “Blackout”, sendo que a primeira acompanha a narração e as cenas de um assalto bem sucedido. Fã do jeito que sou, em breve teremos uma edição especial do Sons de Buteco com as músicas do Muse incluídas no cinema. Só para complementar para os fãs da banda curiosos em saber de outro filme que use alguma faixa do Muse: em Alta Tensão é possível ouvir “New Born” em um momento chave da narrativa. É de arrepiar.

Ainda comentando sobre as cenas com a música do Muse, dá para perceber direitinho a qualidade da sofisticada assinatura de Boyle. A música é elemento essencial em suas produções, e raramente são usadas por acaso. Toda a sequência do assalto precisa da agitação insana de “Hysteria”, e o efeito é fortalecido com as cenas aceleradas e os cortes rápidos. Logo depois, durante a etapa final do assalto, “Hysteria” é substituída pela tranquila “Blackout”, que dá a forte sensação dos responsáveis pelo crime estão livres do risco de serem capturados. Mais do que encher os olhos (e ouvidos) dos fãs da banda, qualquer fã de cinema fica com lágrimas nos olhos de emoção.

O meu “filme perdido” de Danny Boyle realmente caiu do céu. Se você gosta do cineasta e ainda não ter tido a oportunidade de sentar na poltrona e desfrutar desta linda fábula contra o capitalismo, faça esse imenso favor para você mesmo: pare tudo e assista Caiu do Céu. Longe de ser uma obra indispensável na sua história de amor com o cinema, mas é garantia de entretenimento de qualidade, daqueles que passam num piscar de olhos.

poster caiu do ceu


Nota:[quatro]