Ghost World – Aprendendo a Viver

(Ghost World – Mundo Cão). De Terry Zwigoff. Com Thora Birch, Scarlett Johansson, Steve Buscemi, Brad Renfro, Illeana Douglas, Bob Balaban, Stacey Travis, Charles C. Stevenson Jr., Dave Sheridan, Tom McGowan

Ironia e insatisfação; uma necessidade de criticar a tudo e a todos; negar modismos que não possibilitam uma individualidade; um cotidiano melancólico e sem graça: esses fatores combinam com duas adolescentes recém formadas no colegial? Em Ghost World sim. O filme de Terry Zwigoff, mostra o cotidiano de Enid (Thora Birch, de Beleza Americana lembram?) e Rebecca (Scarlett Johansson), no que parece ser a vida real, ou o começo da vida adulta. Além de dirigir Zwigoff também adaptou o roteiro de uma grafic novel, ao lado do criador desta, Daniel Clowes.
Percebe-se a falta de perspectiva das duas, amigas desde a infância, na frase dita por Enid, ao se formar: “We graduated high school. How totally amazing”, (sem a empolgação que normalmente se tem na ocasião). Elas são meninas diferentes das demais. E tem que saber viver num mundo onde serão vistas como estranhas, simplesmente por não aceitar as imposições. Cada uma a seu jeito, passam a lidar com a carga de responsabilidades que a chegada da vida adulta traz: de uma forma ou de outra terão que deixar de ser as social outsiders o tempo todo. Têm que se adequar, e passar a relacionar-se no mínimo harmoniosamente com os outros. Conseguirão? A custa de quê? É isso que acompanhamos durante todo o filme.
Enid passa a se relacionar com Seymour (Steve Buscemi, sempre ótimo) um colecionador de discos raros e relíquias (nada mais apropriado para um sujeito cuja vida está parada no tempo) e fica frustrada com as aulas de artes que passa a freqüentar, ministradas por uma professora egocêntrica. Já Rebecca trabalha em um café, onde com o pouco que ganha, sonha em pagar o aluguel de um apartamento.
Ghost World, não exagera em nenhum momento, nem no humor, nem no drama da dupla central de personagens. É simplesmente um filme sobre duas amigas e seu modo de ver o mundo. Inconformado mas ao mesmo tempo incorporado a uma lógica contra qual não conseguem lutar. É um filme que merece ser visto, embora tenha um ritmo meio lento e arrastado em alguns momentos. O que é apenas mais um sinal do tédio e da falta de perspectiva tão comuns aquelas jovens (e a todos nós?) em algum momento da vida.