Crítica: Eleição

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Todas as pessoas passam por encruzilhadas na vida. Aquele momento em que precisamos tomar uma decisão que tem o poder de mudar tudo, tanto para melhor quanto para pior. O famoso: ou vai ou racha! Se lembrarmos ainda, que numa perspectiva determinística, somos hoje o resultado de todas as nossas escolhas no passado, então existe aquele momento crucial que antecede uma decisão importante que praticamente define quem nós somos.

Eleição (1999) é o segundo longa metragem de Alexander Payne, diretor americano vencedor de dois prêmios Oscar, ambos de melhor roteiro adaptado, o primeiro por Sideways – Entre umas e Outras (2004) e depois com Os Descendentes (2011). Além de roteirista talentoso, ele tem se mostrado um diretor em ascensão, usando cada vez melhores recursos áudios-visuais para contar suas histórias.

Se existe alguma marca registrada do diretor que já é possível identificar em seus primeiros trabalhos é o tema. Eleição e os filmes subseqüentes de Payne contam a história de um homem que está passando por uma passagem de fase na vida, que comumente são conhecidas como as crises de meia idade; em meio a uma crítica ao american way of life do cidadão mediano daquele país.

Jim McAllister (Matthew Broderick) é um popular professor na George Washington Carver High, importante escola de sua cidade. Além disso, é o encarregado de organizar a eleição do Conselho Estudantil, orientando seus alunos em relação a educação moral e cívica, enquanto passa por dúvidas em relação a seu próprio casamento.

Eleição conta com uma montagem moderna, narrações em off que dão um ar quase que documental, e uma edição que lembra muito os atuais reality shows, onde cada um dá a sua versão da história. A inteligência do roteiro está em disponibilizar ao espectador as informações de forma gradual, para que este consiga montar o quebra-cabeça em sua mente e formar sua própria opinião sobre o episódio, e isso não é uma tarefa fácil de realizar de forma tão natural quanto foi feito neste filme.

Destaque para a atuação de Mathew Broderick que inegavelmente carrega consigo o estigma e o carisma de Ferris Bueller do clássico da Sessão da Tarde, Curtindo a Vida Adoidado de John Hughes. Reese Whiterspoon ainda em início de carreira conseguiu dar um ar dúbio a sua personagem, que num primeiro momento parece ser ambiciosa e inescrupulosa, mas por vezes demonstra tentar vencer através de seu trabalho e dedicação. A atuação de Chris Klein não se destaca, mas também não compromete como um adolescente ídolo do time de futebol que acidentalmente é engajado na eleição da escola.

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Além da dupla jornada de Jim McAllister na vida pessoal e profissional, é interessante notar como a orientação política aflora em jovens que ainda estão formando sua cidadania. É possível notar tendências Republicanas em Tracy Flick (Whiterspoon), tendências Democratas em Paul Metzler (Klein) e até tendências anarquistas em sua irmã Tammy Metzler (Jessica Campbell). Orientação esta, que assim com a própria personalidade de cada um se forma desde cedo, e dificilmente muda no decorrer da vida.

Cheio de sarcasmo e pitadas de humor negro, Eleição conta de forma dinâmica e divertida a história de um professor de ensino médio que trava um embate com uma jovem ambiciosa disposta ao que for preciso para vencer.