Crítica A Forma da Água (2017)

Crítica: A Forma da Água (2017)

A magia de um filme está no que ele representa. Por mais, digamos, básica que seja a história contada em A Forma da Água, a maneira como isso é feito e todos os simbolismos tratados no filme são dignos de reflexão.

A produção do diretor Guillermo del Toro nada mais é que uma história de amor entre duas pessoas excluídas pela sociedade por serem “diferentes”. Na verdade, os personagens centrais do enredo são, de certa forma, alvos de preconceito: Elisa (Sally Hawkins) é muda, a criatura é um animal explorado por cientistas e tratado como aberração, Giles (Richard Jenkins) é homossexual, Zelda (Octavia Spencer) é negra. Richard (Michael Shannon) é o monstro que assume o papel daqueles que reprimem os excluídos.

O que vemos na tela é como esses indivíduos se aproximam entre si em função dessa característica em comum e como lidam com o tratamento terrível que sofrem. Alguns diálogos chegam até a nos chocar com sua crueldade, mas eles não são nada mais do que um espelho da nossa sociedade, ainda extremamente conservadora e pouco aberta ao diferente do tradicional. Racismo, homofobia e violência são assuntos explorados intensamente por del Toro e sem pudor nenhum; é um filme violento verbalmente e visualmente.

Em uma cena, Giles está na lanchonete conversando com o atendente, pelo qual sente uma forte atração e pensa que o sentimento é recíproco. Minutos depois ele vê o homem repudiá-lo ao perceber sua sexualidade e discriminar um casal de negros que chega ao local para comer.

Por isso que a experiência que o cineasta mexicano nos permite ter é única. Sim, é aquela famosa história de amor que precisa enfrentar diversas batalhas até se concretizar, mas o enredo construído a fim de nos contar isso vale o tempo. Toda discussão sobre assuntos que naquela época eram constantes e até hoje estão em voga – o que é bastante triste – vale a sessão.

O elenco é formidável, com destaque para Hawkins e Shannon. A atriz deu um toque tão delicado à protagonista que chegou a me lembrar, às vezes, de Audrey Tautou e sua doçura em Amélie Poulain. Ele, por sua vez, assusta a audiência com a extrema frieza e crueldade que Richard trata todos à sua volta, incluindo sua família, a quem é bastante indiferente. Toda vez que chupa sua bala ele nos causa calafrios.

del Toro sempre mostrou ser um diretor extremamente talentoso, que explora o mundo de forma diferenciada sob suas lentes e com um olhar crítico forte. Em A Forma da Água, ele coloca as minorias da nossa sociedade nos holofotes e conta uma comovente história de amor, a qual enfrenta com garras a maldade de um homem incapaz de compreender que o respeito e o amor são universais.