Crítica: Matrix Resurrections (Sem Spoilers)

Matrix (1999) teve um impacto estarrecedor no público e na crítica, e após um resultado não tão empolgante com Matrix Reloaded (2003) e com Matrix Revolutions (2003), a expectativa era grande para o lançamento de Matrix Resurrections (2021). Dessa vez dirigido apenas por uma das ex-irmãos Wachowski, Lana Wachowski, o filme oferece uma memória afetiva saudosista aos fãs da trilogia. 

Somos apresentados, de início, a personagens desconhecidos por nós, mas em um universo e em uma narrativa familiares. Ao mesmo tempo em que o filme nos remete à Matrix (1999), há um estranhamento causado pela repetição, como se já tivéssemos presenciado os acontecimentos várias vezes, mas a partir de personagens diferentes. Alguns planos e algumas sequências são pensados para encaminhar o espectador ao primeiro filme da trilogia, além disso, há um uso de excessivos flashbacks do filme precursor, como se a justificativa da narrativa de Resurrections estivesse diretamente atrelada ao preexistente sucesso da franquia. Apesar disso, o figurino das personagens na Matrix continua impactante e o avanço tecnológico na história permite uma modernização no design de produção e na direção de arte, que são pontos fortes do filme.

O protagonista Thomas Anderson/Neo (Keanu Reeves) está de volta à Matrix, trabalhando para a empresa Ex Machina. Descobrimos, assim como ele, um universo de personagens reconhecíveis, mas habitando novos corpos, sendo renovados e representados por novos atores. Destaques para Yahya Abdul-Mateen II, Jonathan Groff e Jessica Henwick, que faz Bugs, a piloto de Mnemosine (na mitologia, deusa da memória), sendo ela peça fundamental no resgate das recordações do protagonista. No entanto, a presença mais impactante no filme é a de Trinity/Tiffany (Carrie-Anne Moss), o que se dá muito pelo fato de o tempo aparentar não ter passado para a atriz, além de o corte de cabelo da personagem continuar igual: a sua presença evoca lembranças das melhores cenas da agora quadrilogia. 

O casal protagonista aparece em um constante mise-en-abîme, vivenciando um sucessivo jogo indistinguível entre realidade e ficção, em um looping infinito de déjà vu, na tentativa de descobrirem quem realmente são. Funcionaria por um tempo, mas a impressão é a de que o filme privilegia a rememoração do que já foi feito, em detrimento de uma narrativa mais autônoma. Algumas figuras já conhecidas surgem no decorrer da trama, como o caso da personagem de Priyanka Chopra Jones, com a inserção da sua personagem sendo feita de forma muito coerente na história. No entanto, dois personagens conhecidos surgem, em contextos diferentes, envelhecidos caricaturalmente, podendo provocar um certo estranhamento e alguns risos. O Analista (Neil Patrick Harris) também tem destaque no filme, aparecendo em um contexto de aceitação de uma vida ordinária. 

Outro ponto questionável do filme é a heroicização de Neo, por meio de cenas com a presença de humor, como as em que surgem o assunto da sua capacidade de voar. Com isso, o filme possivelmente se comunica com novos públicos consumidores que surgiram nos últimos dezoito anos, ademais de também competir com obras atuais. Ainda que ofereça explicações do que aconteceu nos últimos anos aos personagens, a sensação é de que Matrix Resurrections (2021), oferece variações cíclicas de uma única versão, não apresentando inovação, mas replicando uma história já conhecida, e com o acréscimo de um desígnio por uma história de amor. 

 

por Juliane G.