Filme: Olhos da Justiça

olhos da justiça crítica
Hollywood adora remakes e eis mais um, desta vez de um vencedor do Oscar há apenas cinco anos: El Secreto de Sus Ojos. Em Olhos da Justiça (Secret In Their Eyes, EUA, 2015), vemos a mesma história de uma pessoa que perde um ente amado e busca fazer justiça com as próprias mãos, com algumas cenas idênticas e personagens semelhantes, mas mudanças em certos aspectos. Sem dúvidas, um filme com atuações excelentes, só que um roteiro, digamos, pouco ousado.

Nada contra remakes, acho filmes como Scarface (1983) e O Chamado (2002) ótimas versões de produções lançadas anteriormente. Porém, sabe quando você vê um longa do gênero, acha legal e depois esquece tudo? Como se não houvesse nada especial nele? Esta versão americana do aclamado longa argentino de 2009 tem pontos positivos e alterações interessantes, só que em outras coisas ela deixa bastante a desejar.

Ao invés de um promotor que pega o caso de uma mulher estuprada e assassinada por um amigo de infância, temos aqui um agente do FBI, Ray (Chiwetel Ejiofor), que tenta ajudar a colega e amiga Jess (Julia Roberts) a encontrar o assassino de sua filha, Carolyn (Zoe Graham). Na empreitada, ele acaba juntando forças com a nova promotora Claire (Nicole Kidman), pela qual ele também se apaixona. Desde o início, já sabemos quem é o culpado por meio de fotos e os empecilhos para pegá-lo são similares: por interesse das autoridades, o homem não pode ser preso e a justiça acaba sendo feita de outra maneira.

Apesar de cenas praticamente iguais às da película argentina, como a excelente abordagem ao assassino por Claire e Ray ou a perseguição eletrizante em um estádio cheio de pessoas, o roteiro de Billy Ray tomou algumas liberdades. O cenário, por exemplo, é atual, sendo o crime em 2002, ou seja, 13 anos de diferença entre ambos apenas. Os destinos dos personagens principais também são diferentes, especialmente o final. Como já dito, algumas alterações foram positivas, outras nem tanto.

Por exemplo, o romance entre Ray e Claire nunca toma forma de maneira convincente. Fica claro que existe algo ali, mas ambos nunca têm a chance de mostrar ao público como se amam e nos envolver com isso, algo que se torna prejudicial no fim das contas. Ejiofor e Kidman estão bem, mas a química deles não chega nem perto da química de Ricardo Darín e Soledad Villamil.

Por outro lado, o relacionamento de Jess e Carolyn ganha um foco que nunca existiu na produção original. Os flashbacks de mãe e filha funcionam muito bem para mostrar o quão próximas eram e como a morte da jovem afetou totalmente Jess; a cena em que ela vê o corpo da filha é bastante emocionante. Um detalhe que o roteiro nunca explora é a vida pessoal da agente, já que ela usa uma aliança de casamento e o marido jamais é mencionado. Ficou meio estranho.

A politicagem e defesa dos interesses de um bem “maior” diante de um caso de estupro e assassinato são igualmente mostrados em ambos os filmes, talvez com mais detalhes em Olhos da Justiça. Aqui, sabemos que Marzin (Joe Cole) é um informante do governo e os diálogos são mais aprofundados, o que ajuda a explicar melhor o porquê dele ser eventualmente preso e como isso afeta os personagens que buscam a justiça. Diferentemente do argentino, o remake coloca Jess cara a cara com Marzin no elevador, já que ela ainda frequenta o trabalho após a morte da filha.

Depois dessas comparações, a grande diferença entre os filmes e o motivo pelo qual a nova versão acaba falhando diz respeito ao final. Jess repete o filme todo que quer que o homem pague pelo que fez e jamais o mataria porque facilitaria as coisas para ele e o oposto para ela, mas muda de opinião rapidamente quando Ray descobre o que ela fez e omitiu dele por mais de uma década. Uma decisão clichê e que não faz sentido a meu ver, depois de tudo que ela disse e fez.

A história é comovente e consegue nos tocar, além de um elenco impecável, mas a falta de um desenvolvimento maior dos relacionamentos dos protagonistas e o desfecho, digamos, desnecessário, fazem de Olhos da Justiça um remake bom, mas pouco marcante.