silencio

Crítica: Silêncio (2016)

A expectativa em torno do mais novo filme de Martin Scorsese era grande, afinal, foi um projeto da vida do diretor (que já chegou a pensar em ser padre durante a juventude), e começou a ser desenvolvido por volta em 1990, após as filmagens de A Última Tentação de Cristo.

Toda essa base pode ser um dos motivos da frustração ao assistir Silêncio, um filme que tem qualidades, mas definitivamente está longe da perfeição.

O roteiro é uma adaptação do livro de ficção escrito pelo japonês Shusaku Endo, e acompanha a jornada de dois padres jesuítas portugueses, Sebastião Rodrigues (Andrew Garfield) e Francisco Garupe (Adam Driver), na busca por Padre Ferreira (Liam Neeson), um missionário desaparecido durante um período de violenta perseguição aos cristãos no Japão do século 17.

Somos guiados através da ótica de Rodrigues, interpretado por Andrew Garfield que, embora esforçado e carismático, não consegue alcançar um grau de comoção. Enquanto Driver, um ótimo ator que perdeu 22 kg para o papel, é completamente desperdiçado em um personagem raso.

Dessa forma, a produção tem muitas irregularidades, entre elas a escolha da língua: por melhor que seja a recriação de época, soa estranho um ator americano interpretando um português, enquanto todos os japoneses da pequena aldeia falam inglês.

A confusão fica nítida na cena em que um japonês diz em inglês que: “A língua portuguesa foi um presente trazido por Padre Ferreira”. Uma abordagem que tira um pouco do realismo que o diretor tenta recriar.

Mas infelizmente esse não é o único equívoco, enquanto o protagonista é apresentado como o europeu tradicional, o branco salvador, o Japão é visto como um lugar selvagem, pobre e perigoso. Claro que houveram barbáries cometidas contra os cristãos durante esse período, mas o fato fica ainda mais contraditório ao pensar em todas as atrocidades cometidas pela igreja católica durante o mesmo período (episódios que o personagem principal parece ignorar ou desconhecer), uma visão no mínimo preconceituosa.

Embora tenha qualidades, como a bela fotografia de Rodrigo Pietro, o figurino e a recriação da época, o filme não tem o mesmo apuro técnico de um A Época da Inocência. O uso do CGI, por exemplo, é bem questionável, em uma cena onde um personagem esta sendo queimado, é possível notar que na verdade aquele “fogo” trata-se de um efeito especial artificial.

Eu adoro quando Scorsese foge de seu estilo habitual e investe em projetos mais ousados, porém, infelizmente Silêncio não será um desses êxitos de sua carreia.