Ilha da Morte

O CINEMA CUBANO POVOA o imaginário latino há bastante tempo. Com uma escola bem conceituada e filmes que chamam a atenção em festivais pelo mundo afora, o cinema de Cuba parece ser tão misterioso como a ilha de Fidel. O diretor brasileiro Wolney de Oliveira formou-se em cinema pela Escola Internacional de Cinema e Televisão de San Antonio de Los Baños, em Cuba, e fez, com Ilha da Morte, uma homenagem aos filmes cubanos da década de 1950.

Rodolfo Salas (Rodolfo Caleb Casas) é um jovem cubano de 20 anos, apaixonado por cinema. Em 1958, a tensão toma conta de Havana e seu pai, envolvido com a revolução, precisa fugir da cidade em direção ao interior, que parecia ser mais seguro. O pai de Rodolfo se estabelece como relojoeiro e sua mãe, como professora de violino. A cidade decepciona o garoto, até que ele descobre um cinema e tromba com Ava Gardner. É Laura (Laura Ramos), que encanta Rodolfo. Ao tentar fugir de casa, de volta para Havana, Rodolfo se depara com uma filmagem na estação de trem da cidade. E a vontade de fazer filmes o faz ficar e lutar pelo amor de Laura. Rodolfo tem a ideia de fazer o filme A Ilha da Morte, uma história que bebe no expressionismo alemão e terá influência no decorrer da trama. Ao mesmo tempo, seu pai volta a se envolver com a revolução e questões políticas brotam a todo momento.


Alguns pontos são bem interessantes. O pai de Rodolfo trabalha com relógios, gosta de tudo certo e no lugar. Em oposição, o filho quer viver de arte, de cinema, fugir do tic-tac da vida prática. E, enquanto Rodolfo vara a noite escrevendo roteiros, o grupo revolucionário de seu pai pixa os muros da cidade com palavras de ordem. O pai insiste para que Rodolfo faça um filme sobre a vida real, enquanto o que o garoto faz é representar aristotélicamente o momento de Cuba, mas sem perceber.

Por outro lado, o romance entre Rodolfo e Laura é bastante inverossível. É um amor adolescente demais para jovens em torno dos 20 anos. E a juventude dos protagonistas (e mesmo seu envolvimento com o cinema) parecem ser alienantes demais. Como eles não conseguem perceber a situação política? E como, apesar disso, conseguem fazer um filme tão adequado ao momento?

Como homenagem ao cinema cubano, Ilha da Morte cumpre parcialmente seu papel. As imagens do filme “El cayo de la muerte” original encerram a narrativa e emocionam o espectador. Mas deixa a desejar por passar tão superficialmente sobre a questão política de Cuba. É um bom filme para dar vontade de outros, como Morango e Chocolate, que é um mergulho mais profundo na política cubana.

 

Título original: El cayo de la muerte

Direção: Wolney de Oliveira

Roteiro: Arturo Infante, Manuel Rodríguez, Alfonso Zarauza

Elenco: Rodolfo Caleb Casas, Alberto Pujol, Laura Ramos, Cláudio Jaborandy

Lançamento: 2006 (no IMDb está 2010…)

Premiações: Melhor Roteiro no Festival de Cinema Latino-americano de Triste, Itália (2007), Melhor Filme pelo Júri Popular, no Festival de Cinema e Vídeo de Macapá, Amapá (2007)

Nota: