Efeito Dominó

(The Bank Job) De Roger Donaldson. Com: Saffron Burrows, Jason Statham, Stephen Campbell Moore, David Suchet

Ainda estou sob o efeito dominó. O que eu posso dizer agora é: faça um favor a si mesmo e assista a este filme. Efeito Dominó é muito mais do que um filme sobre assalto a banco. Vai do filme de ação ao drama passando pelo suspense com uma facilidade e uma competência invejável. Eu consigo imaginar a história de um grupo de seis amigos que topam assaltar o cofre de um banco, mas ao fazê-lo acabam abrindo “uma caixa de pandora” (para parafrasear um certo personagem do filme) e descobrem que estão envolvidos num esquema que vai muito além do que poderiam pensar, sendo perfeitamente dirigida por um Hitchcock por exemplo.

O que esta história tem de tão atraente não é apenas o fato de ser uma história real (pesquisas foram feitas, nomes preservados, mas o que vemos em cena realmente aconteceu), mas o modo como é filmada. O espectador é enganado se acha que verá um filme bobo de assalto à banco, assim como o tal grupo de amigos quando aceita a proposta de Martine Love (a bela e talentosa Saffron Burrows) quase que inocentemente. Percebe-se o amadorismo daqueles rapazes. Em contrapartida só a crença de que o resultado do roubo mudará suas vidas para sempre. Eu poderia dizer que aceitam o trabalho sem maldade alguma, mas isso seria condescendente demais, e mesmo que o filme motive isso (realmente a todo o momento torcemos, sofremos e vibramos com aqueles caras!) não farei. Afinal de contas é roubo! Mas como diz o ditado “ladrão que rouba ladrão…”.

O que descobrem então é que além de dinheiro, jóias e toda sorte de relíquias pessoais (encontram desde um vinho de 1945 até a lingerie usada na primeira noite, e nunca lavada), aquelas gavetas contém material usado para subornar a família real, contas envolvendo corrupção policial e registros de brincadeiras nada ortodoxas de membros do governo. É muita gente envolvida, muita gente pode sair perdendo caso tudo isso não seja recuperado. E é muita coisa errada que aparece: é só cutucar.

É aí que a trama leve dos rapazes empolgados com sua nova fortuna (estima-se que este tenha sido o maior assalto da história da Inglaterra) se transforma num suspense/drama frenético e espetacular. A forma como os interesses se chocam e geram conflitos que esses ladrões amadores (mas que podem ser mais espertos do que imaginamos) tem que administrar é eletrizante. Não há um tempo pra respirar: a tensão fica ali, te cutucando, te fazendo encolher no sofá (o que se deve na verdade à ótima edição, e isso acontece desde a primeira cena do filme). Alguns amigos se perdem no caminho (é aí que percebemos com quem eles estão mexendo e esta descoberta por se dar de forma lenta, choca ainda mais), outros saem nem tão ilesos assim. O alívio vem só no final. Ainda há esperança e policiais honestos e dispostos a prender aqueles que merecem (outra coisa que fica meio implícita de forma muito inteligente no filme: eles o fazem por questões éticas ou egoísticas?).

Um parêntese para outra surpresa (o filme em si pra mim já foi uma): a atuação de Jason Statham. Em London (espero que TT já tenha visto esse filme) ele mostra um lado nada convencional, desconhecido desse que conhecemos, o do astro dos filmes de ação exagerados (o que dizer de Adrenalina e os Cargas Explosivas?). Mas aqui a forma como transita entre diferentes momentos de seu personagem é impressionante: líder da nova gangue que se forma, pai de família capaz de tudo para dar o melhor à sua mulher e filhas, tensão e desespero ao mesmo tempo em que consegue demonstrar a necessidade de pelo menos parecer estar no controle (afinal de contas ele está mexendo num vespeiro). Mas a cena em que retorna para casa depois que tudo foi descoberto e que se dá conta, ao ouvir um desabado desesperado que foi longe demais é arrepiar: ele consegue expressar a vergonha e o medo de perder a mulher amada tão sutilmente e ao mesmo tempo de forma tão verossímil… Jason ganhou meu respeito que antes só se restringia a seus atributos físicos.


Embora não goste de me deixar levar pela empolgação ao escrever sobre um filme, e embora ache que dizer que um filme é sensacional e que é um dos melhores filmes que já vi nos últimos tempos é gratuito e não vale de nada, vou fazê-lo. Assistam e depois me digam se é exagero ou não.