Espelho, Espelho Meu

O Cinema de Buteco adverte: o texto a seguir possui spoilers e deve ser apreciado com moderação.

 

QUANDO SE FALA EM FILMES INFANTIS, a primeira impressão é que estamos prestes a assistir alguma coisa sem muita originalidade, com uma pegada bem ingênua e que poderá ser um belo remédio para insônia. Confesso que apaguei na primeira vez que tentei assistir Espelho, Espelho Meu. De qualquer maneira, a recompensa pode ser agradável. Especialmente se você gostar de contos de fadas.

Dirigido por Tarsem Singh, a produção de Espelho, Espelho Meu enfrentou a concorrência de Branca de Neve e o Caçador, de Rupert Sanders. Os dois filmes disputavam quem chegaria aos cinemas primeiro, chegando a trocar de datas diversas vezes. No final das contas, quem se deu bem foi mesmo o filme estrelado por Lily Collins (Um Sonho Possível e Sem Saída), Armie Hammer (A Rede Social) e Julia Roberts, que está brilhante como a Rainha Má. Como se não bastasse ser um filme leve e despretensioso, ainda escapou de um certo escandâlo de infidelidade entre diretor e atriz.

Destaque para a bela abertura animada, que resume bem a história feliz do reino e como tudo muda após o desaparecimento do Rei. É divertido perceber que a população não trabalhava e ficava apenas cantando e dançando todos os dias (felizmente descobriremos uma explicação plausível para isso no final). A engraçada narração da personagem de Roberts se encerra comentando sobre a beleza, enquanto a câmera foca no rosto de Collins, que está extremamente parecida com a artista Frida Kahlo. Bem, a maioria de vocês, leitores etilícos, deve saber o quanto é contraditório falar de beleza e colocar a imagem de Kahlo.

Uma sacada muito criativa da produção é relacionada ao famoso Espelho. Ao invés de simplesmente ficar pendurado na parede, a equipe de Singh resolveu viajar bastante e chegou ao conceito de explorar tudo de uma maneira nunca feita antes. Quando a Rainha resolve consultar seu oráculo da beleza, ela simplesmente é transportada para um universo paralelo e entra dentro de uma cabana, onde conversa com seu próprio reflexo – que tem a mesma lingua afiada, diga-se de passagem.

O roteiro é meio óbvio, inclusive permitindo que o espectador mais experiente consiga antecipar acontecimentos. Existe até espaço para uma frase de efeito: “é importante saber quando você foi derrotada”, que aparece em um determinado momento e se repete de maneira previsível na conclusão. Não fosse pelo humor apimentado (os comentários da Rainha sobre a beleza de Hammer são hilários), seria uma verdadeira tortura assistir ao filme e daria pena de seus atores. Infelizmente tudo tem seu lado positivo e negativo.

A cena final de Espelho, Espelho Meu explica melhor os motivos que faziam os personagens viverem dançando e cantando: na verdade, toda a população daquele reino eram os ancestrais dos inventores de Bollywood, o que fica explícito durante a divertidíssima sequência de dança estrelada por Collins, os anões e todos os outros personagens da trama.

Indicado especialmente para o público infantil, o longa-metragem corre o risco de agradar quem se permite ser feliz e mergulhar em uma fábula sem pé nem cabeça. O grande destaque da trama está no seu roteiro capaz de envolver tanto crianças quanto adultos, graças aos comentários infames da vilã vivida por Roberts. Excelente oportunidade de se distrair e rir com algo voltado para crianças. 


Nota:[tres]