Filme: Cocoon (1985)

Cocoon

RON HOWARD COSTUMA SER APONTADO COMO UMA ESPÉCIE DE STEVEN SPIELBERG PIORADO. Se é verdade ou não, ou se é apenas maldade, depende do ponto de vista do espectador. Inegável que o diretor parece fazer pequenas “homenagens” aos clássicos de Spielberg em sua filmografia. O encerramento de Splash remete ao E.T. O Extraterrestre e como não dizer que Cocoon (1985) é uma mistura de ET com Contatos Imediatos de Terceiro Grau? Na minha opinião, as semelhanças em nada diminuem a qualidade da obra de Howard e são injustas.

Cocoon é baseado num romance do escritor David Saperstein. Se trata de um longa-metragem que fala sobre envelhecimento e o fim da vida de uma maneira sensível e muito divertida. Acompanhamos a história de três amigos da terceira idade, Art (Don Ameche), Ben (Wilford Brimley) e Joe (Hume Cronyn), que possuem o hábito de fugirem do retiro em que vivem para dar uns mergulhos na piscina de uma mansão. Tudo sem permissão, claro. O que eles descobrem é que a água da piscina faz com que o trio se sinta com as energias revigoradas, como se a idade não fosse mais um peso.

O que acontece de fato é que a piscina é usada para repousar os casulos de criaturas extraterrestres dormentes, cuja energia consegue rejuvenescer e curar os velhinhos de suas doenças – e estimular até mesmo o vigor sexual. Ou seja, é como se Ron Howard estivesse filmando a sua própria versão da “fonte da juventude” como uma metáfora para nos mostrar que podemos encarar o amadurecimento como uma questão de estado de espírito. Não é a nossa idade que aponta nosso comportamento ou nossa vontade de viver, mas sim as coisas que nos mantém felizes, como as amizades e os amores.

Ainda no elenco, Steve Guttenberg (Loucademia de Polícia) aparece em cena como Jack Booner, o piloto do barco que os extraterrestres alugam para tentar resgatar seus parceiros. É engraçado que apenas pela presença de Gutemberg já sabemos que se trata de um clássico dos anos 1980. A bermudinha que o seu personagem usa em cena deixa isso bem claro para quem ainda ficou na dúvida após observar os penteados da época. Brincadeiras a parte, é justamente o ator que protagoniza uma das melhores cenas. Numa aparente referência ao clássico Psicose, de Alfred Hitchcock, Jack observa Kitty (Tahnee Welch) trocando de roupa através de um buraco. A surpresa que ele tem ao descobrir além da nudez da moça é hilária.

Ron Howard pode não ter o talento de Spielberg para nos emocionar, mas sabe aproveitar bem as lições deixadas pela obra do Midas de Hollywood: uma delas é a importância de um tema musical envolvente e imponente, como é o caso do material lúdico composto por James Horner. De resto, ao repetir a temática de vida em outros planetas e esse tão sonhado contato com os humanos, ele está apenas exercendo o seu direito de tentar criar histórias marcantes. E digo que conseguiu isso com Cocoon.

São raras as ocasiões em que idosos recebem a atenção de Hollywood, muito embora isso sempre resulte em produções marcantes. Recentemente tivemos O Exótico Hotel Marigold, com um elenco afiado (Judi Dench, Bill Nighy, Maggie Smith, Tom Wilkinson) e uma história apaixonante; e Um Divã a Dois, com Steve Carell interpretando um psicólogo do amor para o experiente casal vivido por Tommy Lee Jones e Meryl Streep. É esquisito perceber que a indústria parece ignorar tanto esse tipo de premissa quanto os próprios atores mais velhos, que acabam sem muitas opções para trabalhar. Cocoon, mais que um bom filme, é uma bela homenagem para algo que atingirá a todos nós um dia.

Recomendado para todos os públicos, Cocoon é um autêntico representante do fantástico ano de 1985. Ele faz parte de uma verdadeira seleção de obras inesquecíveis, como O Clube dos Cinco, de John Hughes; Os Goonies, de Richard Donner; De Volta Para o Futuro, de Robert Zemeckis; dentre outros. Se você ainda não assistiu (ou nunca havia ouvido falar), aproveite para mudar isso!