Crítica: Decisão de Risco (2016)

Poster Decisao de RiscoQual o preço de uma vida? Vale a pena sacrificar uma criança para evitar a provável morte de outras pessoas? Tudo isso fica em jogo no chocante Decisão de Risco (Eye In The Sky, Reino Unido, 2016), drama que mostra uma visão diferente da guerra e os interesses que estão na mesa antes de uma atitude ser tomada.

Gavin Hood nos leva a um universo no qual acompanhamos de perto o processo burocrático e minucioso de uma ação conjunta dos exércitos britânico e estadunidense diante do inimigo. Dentro de uma casa estão alguns dos nomes de uma temida lista de procurados, os quais incluem cidadãos desses próprios países. Esses terroristas aparentemente pretendem realizar um ataque com dois homens bombas naquele mesmo dia. Problema: uma operação que antes era de captura passa a ser de assassinato. No entanto, se enviarem um míssil, a explosão mata todos da casa e potencialmente uma menina (Aisha Takow) que está próxima ao local. Se não fizerem nada, homens bomba atacam.

Temos aqui um dilema e o roteiro de Guy Hibbert explora essa questão de diversas maneiras. Vemos o lado dos EUA, que quer eliminar os nomes da lista não importa como, o da coronel Powell (Helen Mirren), que quer evitar um novo atentado terrorista a qualquer custo e finalmente pegar aqueles nomes, ou o da conselheira Northman (Monica Dolan) , que é contra qualquer tipo de ofensiva que resulte em mortes e quer poupar a vida da criança. Nós também acompanhamos a tarefa difícil dos dois soldados americanos que são responsáveis por monitorar e soltar o míssil caso recebam ordens.

O interessante disso é ver as razões de cada indivíduo e como alguns pensam mais em si mesmos e em seus interesses próprios, outros pensam nos interesses dos países e outros pensam no ser humano e seu direito à vida. Os fins justificam os meios? Será que vale a pena sacrificar a vida de uma garota para evitar um possível ataque de homens bomba? Em uma cena, temos dois argumentos bastantes reflexivos sobre estratégias de guerra: se eles deixam os terroristas agirem, vencem a guerra da propaganda; se matam eles e a jovem, serão massacrados pela imprensa e internet por terem causado a morte dela. Isto vai desencadear toda uma comoção mundial e gerar ainda mais ódio nos rebeldes, deixando a guerra ainda pior; é um ciclo que não acaba nunca.

É exatamente tal discussão que torna Decisão de Risco um longa de altíssimo nível: sua capacidade em nos envolver com aquela história, identificar-nos com o que vemos e refletir sobre o assunto. Até onde chegamos? Como exércitos conseguem ter acesso a informações tão privadas e ter controle sobre as vidas das pessoas e decidirem se elas vão morrer ou não? Como pessoas estão dispostas a manipular as outras para conseguirem o que querem? Como somos tão maquiavélicos quando perseguimos um objetivo? Assistir a isso é doloroso e no fim levamos um soco no estômago. Por quê? Porque é triste ver uma realidade do nosso mundo e como seres humanos conseguem ser tão egoístas e interesseiros em nome de uma missão.

Além do roteiro reflexivo, o drama tem como destaque as performances. Todos do elenco, sem exceção, estão bem em seus respectivos papéis. Aaron Paul e Phoebe Fox são talvez os atores que mais se identifiquem conosco, uma vez que interpretam soldados cumprindo ordens e presenciando um jogo de interesses que também acaba assustando-os e destruindo-os. O mesmo para Dolan. Rickman e Mirren são mais difíceis de nos conectar porque, por mais que seja compreensível entender o que eles querem fazer – evitar um ataque terrorista -, eles são tão maquiavélicos, especialmente ela, que nos dão raiva em certos momentos. Que o diga o discurso egoísta final dele.

São tantas coisas pra falar que eu poderia continuar escrevendo por mais uma hora sobre como nossa sociedade precisa de mudanças. Nada de #PrayForBelgium apenas, é #PrayForTheWorld e diariamente. Mas deixo o resto para uma conversa de bar.