TOMORROWLAND

Filme: Tomorrowland – Um Lugar Onde Nada é Impossível

Tomorrowland vende uma ideia que não convence o espectador, mas ainda assim consegue divertir

Review Tomorrowland

BRAD BIRD É UM DOS CINEASTAS MAIS INTERESSANTES DA ATUALIDADE. Depois dos sucessos com as animações Os Incríveis e Ratatouille, o diretor assumiu o quarto filme da franquia Missão: Impossível. Não foi nenhuma surpresa que Protocolo Fantasma tenha sido eleito como um dos principais destaques da temporada 2011 e responsável por ressuscitar o agente secreto Ethan Hunt (Tom Cruise). Então, com todas essas credenciais, a expectativa para Tomorrowland – Um Lugar Onde Nada é Impossível (Tomorrowland, 2015) era imensa. Como poderia ser diferente?

Sem querer dizer o que é justo ou não se tratando da expectativa, já que se trata de algo extremamente pessoal e que varia drasticamente de uma pessoa para outra de acordo com suas próprias bagagens, Tomorrowland decepciona não por ser um filme medíocre, mas por ser um filme medíocre dirigido por Brad Bird. O cineasta escorregou e realizou aquele que pode ser facilmente considerado como seu pior trabalho até o momento. Apesar disso, seria uma grande mentira dizer que Tomorrowland é ruim. Não é o caso. Ele possui defeitos que nada dizem respeito à questão da expectativa, mas nada que seja realmente grave ao ponto de incluir a obra na lista de piores filmes de 2015. Ainda bem!

O principal problema de Tomorrowland está na sua narrativa confusa. O público infanto-juvenil certamente se deliciará com o tipo de proposta de humor cultivada no começo da trama – e ao contrário dos cinéfilos mais exigentes e atentos, não terão o que reclamar quando as interrupções do narrador desaparecerem a partir de determinado momento. Mas essa mesma maneira de fazer algo engraçado causa uma tremenda confusão para a gente se localizar na história. O primeiro ato chega a ser desconfortável tamanha a quantidade de informações jogadas no público e a falta de aprofundamento em cada uma. Digo com certeza: preferia que o filme inteiro girasse em torno do personagem de George Clooney durante a sua infância. Promissor seria, acho eu.

Outro grave defeito do roteiro é que Tomorrowland é “vendido” como um mundo perfeito, mas não se sabe exatamente porquê. Seria pela tecnologia? Pela concepção de um mundo a partir das mentes e sonhos das pessoas mais criativas de uma geração? Não sei. É como se fosse uma grande Disney World: você quer ir lá porque existe todo um mito sobre o quão fantástico é aquele lugar. Na saída da sessão conversei com a minha querida professora Ana Lúcia Andrade e ela levantou uma questão relevante: o que diabos a Casey (Britt Robertson) tem de especial para chamar tanto a atenção e ser considerada como uma salvadora da pátria? Nós não compramos essa ideia porque ela simplesmente sequer é colocada na prateleira. No entanto, como disse, espectadores mais jovens e menos exigentes, estarão absortos demais na fantástica mistura de sci-fi com aventura.

Será que o roteiro de Damon Lindelof (Lost) pode ser acusado de estragar o filme do Brad Bird? Os haters dirão “claro”, óbvio. Eu prefiro defender Lindelof da intriga da oposição e dizer que Bird não é infalível e iria errar cedo ou tarde.

Crítica Tomorrowland

Sobre o elenco, é preciso dizer que Clooney consegue deixar de ser o mesmo personagem de sempre e tem uma abordagem semelhante ao que apresenta em Os Descendentes. Ele interpreta um verdadeiro adulto preso aos seus traumas e frustrações de infância. Inclusive, é curioso como o roteiro explora bem a paixão que Frank sente por Athena (bela atuação de Raffey Cassidy na pele de uma tradicional e irritante criança prodígio). Se de um ponto de vista mais objetivo, o espectador pode achar que ele é um pedófilo maluco, por outro dá para perceber o quanto o amor de infância era forte e real para Frank. O suficiente para que ele se tornasse um adulto que foi impedido de amadurecer completamente. Ainda assim, é Thomas Robinson (Coincidências do Amor) quem rouba a cena e dá o ar especial e fantasioso que Tomorrowland tenta nos empurrar. Interpretando a versão infantil de Frank, o ator dá um grande show.

A direção de arte se destaca por criar um mundo futurista atraente e que, como disse, é um espécie de Disney World. Pena que o roteiro não conseguiu nos convencer de que aquele lugar era realmente especial, por mais que repetisse mil vezes os motivos. E já que estamos falando da Disney, ninguém melhor para aproveitar seus produtos para fazer um merchandising básico: numa das sequências mais divertidas, os nerds podem se deliciar com uma verdadeira sessão de referências explícitas a Star Wars. E tem espaço até mesmo para o Homem-Aranha, que aparece discretamente no fundo do cenário – ou seja, eis a primeira aparição do amigo da vizinhança no universo da Disney/Marvel. Na trilha sonora se destaca o momento em que o blues indie do Black Keys empresta “I Got Mine” para embalar uma aventura noturna de Casey.

Tomorrowland é uma autêntica propaganda do amor que deixaria John Lennon orgulhoso e pode até dar uma boa dose de esperança de um mundo melhor para o público mais jovem. Com seu discurso de que o mundo perfeito depende apenas da união das pessoas do planeta, mais respeito, paciência e carinho, o longa-metragem deixa de ser uma bela aventura voltada para agradar um target bem específico (e acertar em cheio) para ficar ciscando em vários terrenos sem conseguir criar o mínimo de aprofundamento necessário para nos vender suas ideias principais. No fim das contas, ficamos apenas com a ideia de que Tomorrowland é um lugar onde nada é impossível. Talvez seja preciso ser mais jovem ou menos cínico para conseguir aproveitar completamente a obra, mas pelo menos pude dar algumas risadas e recuperar alguns anos no meu espírito.

Review Tomorrowland
Tomorrowland – Um Lugar Onde Nada é Impossível (Tomorrowland, 2015) Dirigido por Brad Bird. Escrito por Brad Bird e Damon Lindelof. Com George Clooney, Hugh Laurie, Britt Robertson, Raffey Cassidy.