Guerra dos Mundos

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STEVEN SPIELBERG É UM DOS PRINCIPAIS CINEASTAS DA HISTÓRIA DO CINEMA, independente de você gostar ou não disso. Além de ter revolucionado a indústria após o lançamento de Tubarão (considerado como o primeiro grande blockbuster de Hollywood), em praticamente todas as suas obras existe aquele momento especial em que você sente aquela satisfaçãozinha no peito e pensa: “Esse cara é um filho da puta mesmo, viu?”. Mesmo em obras menores, como Guerra dos Mundos, é possível perceber a sensibilidade e talento do diretor.

Adaptação do livro de H.G. Wells (e que causou grande comoção no final da década de 1930 nos EUA, quando Orson Welles impressionou a audiência de uma rádio e fez boa parte do público acreditar que o país estava realmente sendo invadido por seres de outros planetas), o filme conta a história desse sujeito egoísta (Tom Cruise) que precisa cuidar dos filhos enquanto o planeta enfrenta uma séria ameaça vinda do espaço. O roteiro de David Koepp (Jurassic Park) e Josh Friedman toma diversas liberdades e muda muito da obra original, embora mantenha um final semelhante (tanto pelas bactérias que eliminam os aliens quanto pelo retorno do filho rebelde do personagem de Cruise.

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Como é comum na filmografia de Spielberg, o foco da obra não está na invasão extraterrestre, e sim na relação entre Ray (Cruise) e seus filhos Robbie (Justin Chatwin) e Rachel (Dakota Fanning). O mundo inteiro está em colapso e Ray precisa aprender a deixar de ser um sujeito egocêntrico para conseguir garantir a sobrevivência de seus filhos. O lado paternal de Ray “nasce” diante o risco real da morte. Ele luta para preservar o adolescente rebelde, que cresceu sofrendo com o distanciamento com seu pai, e para convencer a jovem Rachel de que ele pode oferecer segurança. É elegante perceber a evolução de Ray ao longo da história. Especialmente nos momentos extremos, como quando ele é obrigado a sacar uma arma para impedir a morte dos filhos, e também na bela cena em que decide matar o maluco interpretado por Tim Robbins. Aliás, é merecido citar o belo trabalho do diretor de fotografia Janusz Kaminski, que transforma Tom Cruise em uma sombra prestes a cometer um ato cruel e sem volta. A câmera deixa Robbins em primeiro plano e Cruise surge logo no fundo, mas não conseguimos enxergar o rosto do ator.

Ainda que seja um bom ator e não comprometa o resultado de Guerra dos Mundos, Cruise é ofuscado pela participação brilhante de uma inexperiente Dakota Fanning. O longa-metragem foi lançado em 2005, quando os EUA ainda viviam tensos com o medo de novos ataques terroristas, e Fanning explicita isso muito bem quando começa a perguntar desesperada se “são os terroristas” por trás daquelas explosões todas. Chatwin (o cara que ficou mais conhecido por ter afundado o pé na jaca ao aceitar estrelar a adaptação de Dragon Ball Z para o cinema) é um menino chato, cheio de mimimi. Fica difícil descobrir se o ator que é ruim ou o personagem que merece uma overdose de gardenal. Robbins faz uma breve participação, mas é o suficiente para conseguir ser um dos responsáveis pelos melhores momentos da trama.

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Guerra dos Mundos dividiu opiniões, pois boa parte do público não apreciou a explicação de que bactérias foram as responsáveis por eliminar os aliens. Inevitável comparar com o encerramento de Lost. As pessoas criam expectativas altas demais para o fim de certas histórias e quando recebemos uma resposta inferior ao esperado (ou simples), geralmente ficamos decepcionados. No caso de Lost é ainda mais injusto, já que muitos se acham na obrigação de receber respostas quando a melhor série de todos os tempos era justamente sobre as perguntas. Quem esperava ver o Tom Cruise bancando o herói salvador do mundo se fodeu loucamente, e ainda não sacou que Guerra dos Mundos não é sobre a invasão alienígena, mas sim sobre os esforços que um pai é capaz de fazer para proteger seus filhos.

Pessoalmente, acho Steven Spielberg um verdadeiro mercenário. E olha que eu sou publicitário, hein? Me incomodo com a sua intervenção na franquia Atividade Paranormal e com o seu moralismo excessivo, que vez ou outra modifica alguma de suas obras passadas. Lamentável que um diretor capaz de criar tantas cenas lindas (você praticamente chora no momento em que Fanning vai ao banheiro e observa aquele monte de cadáver flutuando no riacho), seja um babaca que há muitos anos entrou no piloto automático e não parece ter mais nada a oferecer, exceto a sua inquestionável capacidade de criar filmes inesquecíveis.

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Nota:[tresemeia]