(O dia em que assisti) Crepúsculo

(Twilight) De Catherine Hardwicke. Com: Kristen Stewart, Robert Pattinson, Billy Burke, Nikki Reed, Ashley Greene, Jackson Rathsbone, Kellan Lutz, Peter Facinelli, Cam Gigandet, Elizabeth Reaser.

Assistir Crepúsculo é quase uma experiência antropológica. Não li os livros. Não vou ler, então nunca vou saber se a tal Stephenie Meyer é boa escritora. Mas como o assunto aqui é cinema, fica a pergunta: porque diabos esse filme faz tanto sucesso? O que a “garotada” vê de tão bom nisso? Essas pessoas têm algum senso crítico? A minha resposta: o sucesso se deve à tal fórmula pronta, ao tal cérebro desligado, à facilidade de acesso à esse novo universo criado. Não há muito o que pensar, nem desenvolver. Tudo acontece de forma a preencher (mesmo que de forma completamente incompetente como comentarei a seguir) lacunas e criar a nova saga de sucesso juvenil. Quando menos se espera temos um casal apaixonado, um conflito a ser resolvido e a promessa de amor eterno. Lindo não? Mas que dá uma vergonha alheia, isso dá. Sinceramente? É triste perceber que qualquer coisa vai sendo empurrada na cabeça desse tipo de público (me refiro aos adolescentes que gostam da série) que não se dá conta de como os jovens são retratados. Compram a idéia de que pra agradá-los, não se pode ser inteligente ou ter o mínimo de complexidade (um pouco dessa minha revolta se deve à tarde passada em que assisti a um capítulo da nova temporada de Malhação).

A história poderia ser mais bem desenvolvida sim, o ponto de partida não é totalmente ruim. Garota (a Bella de Kirsten Stewart) nova na escola de uma cidade norte americana se vê fascinada por um garoto estranho e excêntrico (o Edward de Robert Pattinson). Sua curiosidade em saber mais sobre a vida dele a leva a descobrir que ele é um vampiro (porque pesquisou no Google). Logo ele a convida para conhecer sua família vampírica (e porque não jogar beisebol com eles?!?!), quando, de repente, os vampiros maus aparecem, e pra provocar os vamp’s bons (que se auto-intitulam vegetarianos por não se alimentar de sangue humano) um deles quer por que quer dar uma sugada básica na garotinha. Tá. Mas quando eu digo que a história, que mesmo sendo assim meio pobre (lembre-se que se houver muita complexidade não haverá identificação com os dramas desses jovens estudantes apaixonados) poderia ser mais bem desenvolvida, é porque ela em nenhum momento é.

É uma ficção, que fala sobre vampiros, mas custava pelo menos criar personagens menos bidimensionais? Um pouco mais reais pelo amor de Deus! Volto a dizer aqui que não sei ao certo se é um problema do roteiro adaptado ou da obra que o originou, mas a forma como as ações se desencadeiam é a mais inverossímil possível. E nem falo do fato de os Cullen – a tal família vampiresca boazinha, ser uma subversão total do conceito de vampiro que conhecemos (liberdade poética existe, mas a forma como nos são apresentados já é pedir demais!), mas a forma como mesmo aqueles personagens humanos soam tão falsos a todo o momento. Mais do que isso. As relações que vão sendo desenvolvidas entre os personagens é que são mal trabalhadas. Alguns destaques:

1º: De onde vem esse interesse generalizado pela figura de Bella? Mal a menina coloca os pés na escola todo mundo já sabe quem ela é, de onde veio… Mesmo que a maioria daqueles estudantes se mostre completamente imatura e sem graça, isso mostra novamente a despreocupação do roteiro em desenvolver uma relação de forma mais palpável entre eles. Porque Bella mesmo sendo a protagonista da história não tem nada de interessante. Só é bonita e suspira (sem falar nas caras e bocas) quando vê o amor da sua vida Edwart, que numa sacada que era pra ser genial aparece com asas de anjo em sala de aula. Não colou. Mas mesmo assim com um dia de colégio ela já tem uns 10 melhores amigos.

2º: E o que dizer do nosso vampiro herói? Ele é bipolar ou o quê? Alguém pode dizer pra ele se decidir por favor? Ele quer que Bella saiba a verdade ou consegue esconder que é um vampiro pelo menos até a metade do filme? Já que(desculpem se sôo repetitivo) isso sim seria o mais verossímil, pois seu segredo não é qualquer coisa (eles são vampiros afinal de contas!!!). Se uma hora ele exibe seus poderes gratuitamente, logo em seguida ele desconversa quando ela lhe faz perguntas sobre suas atitudes. Muito confuso. Mas como a preocupação é fazer surgir o tal romance o mais rápido possível pro resto da história poder se desenvolver… E se esse é o casal que vai protagonizar a série espero que passem a ter um pouco mais de química antes do último capítulo.

3º: Que tipo de adolescentes é esse? Que tipo de VAMPIRO é esse? A essa altura do filme eu já acreditava se tratar de algum universo paralelo, mas tensão sexual tem que existir em qualquer realidade!! Os dois deitam na relva, ficam a sós no quarto (pra logo depois darem uns pulinhos pelas árvores próximas ao lugar), ele toca piano, e nada?!?! Deixo claro que não estou pedindo cenas fortes de sexo, mas beijo na boca pelo menos. A desculpa do filme é essa resistência forçada da parte de Edward que tem que se segurar pra não beber o sangue da garota. Isso poderia servir de metáfora para o desejo contido dos jovens e seus hormônios em ebulição. Mas esperar isso do filme seria dar muito crédito a ele. “Não gosto dele porque ele te olha com se quisesse te comer”, diz um amiguinho de Bella. Como se atração entre pessoas que estão eternamente apaixonadas fosse algo do outro mundo.
4º (e último): Me senti extremamente ofendido com a tal “briga” entre pai e filha: Bella, na impossibilidade de pensar em algo melhor pra poder fugir de casa sob o risco de ser devorada pelo vampiro carnívoro, acha melhor ser extremamente escrota com seu pai, já que, se ele passar a odiá-la, talvez a dor pela sua partida seja menor (????). Isso é duvidar da minha inteligência! Mesmo. Eles nem sequer trocavam palavras direito, e não se viam desde os quatro anos da menina. A preocupação repentina soa muito falsa, o contrário do que pretende o roteiro, já que a intenção é criar uma cena triste e comovente. Pra mim não deu certo.

Tem muito mais coisa que eu poderia dizer. Se tem algo de bom no filme? A trilha não é das piores (acho paia Radiohead ter cedido música), a cena na escola de balé consegue estabelecer certa tensão (mesmo que os fatos que levem os personagens até ali também sejam um pouco desconexos), e é isso. O post já tá grande demais e filme ruim não merece tanto espaço no blog. O que eu não faço pelo CB? Mas sabe de uma coisa? Eu me comprometo a acompanhar toda a série e torcer pra que algo melhore. Stewart e Pattinson são atores talentosos, e merecem mais. Vamos aguardar pra ver…