O Espetacular Homem-Aranha 2

O Cinema de Buteco avisa: esta crítica pode conter spoilers e deverá ser apreciada com moderação!

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ASSIM COMO NO PRIMEIRO FILME DA NOVA FRANQUIA, O INJUSTIÇADO O Espetacular Homem-Aranha (2012), nesta continuação, o diretor Marc Webb comete vários erros, mas acerta em cheio em um importante elemento: o de nos mostrar que, mesmo sendo um super-herói, Peter Parker (Andrew Garfield) é apenas um adolescente, com toda a sua vulnerabilidade e impulsividade típica.

Os eventos se passam na formatura de ensino médio de Peter e Gwen Stacy (Emma Stone), o que por si só já deveria ser uma importante transição emocional para os personagens, com Peter demonstrando sua dupla vida, ao se atrasar para a cerimônia para impedir o roubo de uma carga de urânio pelo russo Aleksei Sytsevich (Paul Giamatti).

Atormentado por descumprir a promessa feita no filme anterior ao Capitão Stacy (Denis Leary) de ficar longe de Gwen, Peter tem que lidar com as idas e vindas de seu relacionamento com a garota, tudo isso enquanto tenta descobrir o passado de seu pai e tem de enfrentar um novo vilão: o carente Electro (Jamie Foxx). Sem também esquecer o surgimento de um antigo amigo: Harry Osborn (Dane DeHaan), que retorna a NY para assumir a presidência da Oscorp após o falecimento do pai, Norman Osborn (Chris Cooper).

Temos então três fatos marcantes em sua vida pessoal, quatro novos personagens e muitos acontecimentos na primeira hora de filme, o que marca o principal defeito do longa: a fraqueza de roteiro, que para conseguir amarrar as pontas de tantos novos elementos importantes nos quadrinhos introduzidos de uma só vez acaba por ser incoerente e preguiçoso.

Com isso, uma divertida trama pessoal e boas cenas de ação perdem a vez para detalhes tolos e que mostram a total preguiça dos roteiristas, como um vídeo que é descoberto em um esconderijo subterrâneo (por que não entregue diretamente para Peter?); o dono de uma empresa que é expulso instantaneamente da corporação por acessar um arquivo secreto; uma assistente que tem apenas uma fala no filme inteiro, para revelar um segredo; e o principal – um único interruptor que é capaz de restaurar a luz de Nova York inteira. NOVA YORK!

Electro

Some a isso o fato dos vilões terem motivos banais e repentinos para odiar o Homem-Aranha e você terá alguns elementos dignos dos Batman’s de Joel Schumacher, o que é reforçado por atuações extremamente caricaturais do elenco secundário.

Paul Giamati parece um vilão do Pernalonga de tão vergonhoso, Chris Cooper é um pai cadavérico, Jamie Foxx lembra o Charada de Jim Carrey por sua inocência forçada e adoração pelo super-herói. Tudo isso culminando em um Doutor russo (interpretado por Marton Csokas) que fará você querer se esconder embaixo da cadeira de vergonha alheia. Já DeHaan, que surpreendeu positivamente em Poder Sem Limites, claramente se esforça para dar complexidade ao seu Harry Osborn, mas é prejudicado pela fraqueza com que seu personagem é inserido.

Felizmente o mesmo não ocorre com o núcleo central do filme, já que toda a força de elenco está na excelente química entre Garfield e Stone, que desempenham muito bem as principais cenas do arco dramático do longa, como uma conversa séria com a tia May (Sally Field), uma linda declaração de amor em uma ponte e uma triste cena no terceiro ato, importante para os fãs de quadrinhos.

Garfield mantém o bom humor e inocência característica do personagem, o que torna o filme mais leve e crível, já que Peter é um adolescente que esquece o mundo por causa de uma discussão da namorada, que nunca arruma o quarto e que briga com a tia por coisas bestas como a máquina de lavar roupa.

Além da irritante trilha de Hans Zimmer, o que atrapalha essas pequenas pérolas do filme é justamente a necessidade de amarrar rapidamente as pontas soltas. Sendo assim, uma linda cena na qual as estações do ano mudam enquanto Peter encara um cemitério é interrompida de maneira tola para criar um final um pouco mais feliz e introduzir elementos para o próximo filme.

Para ser justa, não são apenas as cenas dramáticas que contam como acertos, mas o fato do filme suscitar a discussão sobre a legitimidade dos justiceiros e a sociedade do espetáculo que cria os vilões. Há também excelentes cenas de ação entre os personagens de Garfield e Foxx, como a introdução de Electro, culminando em um muito bem feito apagão na Times Square, e uma “eletrizante” (ha ha) luta final.

Sendo assim, para aqueles que procuram divertimento e boas cenas de ação em filmes de super-heróis, O Espetacular Homem-Aranha 2 é uma boa opção, mas ainda deixa muito a desejar no que diz respeito a maturidade de seu roteiro.

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PS1:  o 3D mais uma vez é totalmente desnecessário aqui.

PS2: Aqui em Portugal, onde assisti ao filme, não teve nenhuma cena pós-crédito. Não sei se isso será mantido no Brasil.

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