O Vingador do Futuro (2012)

MUITA GENTE ME PERGUNTOU SE O VINGADOR DO FUTURO ERA BOM.


A pergunta é cruel, afinal cada pessoa tem sua própria bagagem cultural para afirmar se gosta ou não de alguma coisa, mas respondi dizendo que era “divertido”. Acho que fui gentil demais. A refilmagem se provou bem mais desnecessária do que parecia ser quando foi anunciada, muitos meses atrás. Isso vale mais para as pessoas que não viram o filme original ou para quem quer apenas ir ao cinema se distrair com alguma porcaria. Tanto faz, tanto fez, não importa. Essas até correm o risco de se deliciarem com as peripécias de Colin Farrell, Jessica Biel e Kate Beckinsale, mas o espectador mais experiente e que busca profundidade nas obras cinematográficas ficará com vontade de enfiar os dedos nos olhos e puxar a língua pelo ouvido. Ou beber cerveja quente para esquecer rápido o que acabou de assistir.

Feita a apresentação e separação dos públicos, vamos falar qual é a história da refilmagem de O Vingador do Futuro, filme que Paul Verhoeven dirigiu em 1990, contando com Arnold Schwarzenegger e Sharon Stone nos papéis principais. Doug (Farrell) é um jovem trabalhador em busca de algo mais na sua vida. Após uma visita numa empresa de implantes de memória, ele descobre que sua vida era uma mentira e que seu verdadeiro trabalho é como um perigoso agente secreto. Isso é o básico do roteiro, que além das referências (ou homenagens) óbvias ao filme original, ainda se presta a reverenciar outros clássicos sci-fi, como Star Wars e Blade Runner. Infelizmente não é o suficiente para impedir o fiasco do remake.

Farrell, que é um ator bonitão e carismático, não teve dificuldades para entender o papel e faz um bom trabalho como o herói. Sua parceira não deixa a desejar, embora seja chato ver uma atriz como Jessica Biel desperdiçada em porcarias assim. Lamentavelmente (ou previsivelmente, dependendo da sua crueldade, caro leitor), o mesmo não pode ser dito da atuação de Beckinsale como a vilã. A atriz parece não ter percebido que estava no set de filmagens de O Vingador do Futuro e não no da franquia Anjos da Noite, já que age como se fosse uma mulher indestrutível e capaz de dar porrada em um homem como Farrell. Tudo bem que a culpa dessa semelhança com o universo da franquia dos vampiros possa ser culpa do diretor Len Wiseman (marido de Beckinsale), que em detrimento do roteiro, optou por investir em cenas de ação arrastadas e no belo cenário futurista. Pelo lado positivo, a “experiência” de Wiseman resultou em uma bela sequência no começo do filme, com a câmera passeando rapidamente pelo cenário, sem nenhum corte aparente, enquanto Farrell derruba todo um esquadrão de soldados.

Um dos grandes problemas do remake é sua inconstância. Depois da participação especial da Mulher de Três Peitos (preciso escrever que foi minha cena favorita?) e da cena descrita acima, o filme se transforma em uma verdadeira maratona olímpica de saltos com obstáculos e corrida por cima dos prédios. Ouvi alguém gritando que já viu isso antes nos filmes de Wiseman? As mudanças de ritmo afetam o desenvolvimento da trama, que acaba perdendo muito em comparação ao original. Além de ser pouco criativo e até bobo em algumas partes (um telefone na mão, gente? sério?), ao colocar duas mulheres lindas “disputando” Doug, o roteiro estraga a lição de conto de fadas da produção de 1990. Com Biel de um lado e Beckinsale do outro, a maioria dos homens procuraria uma cadeira, uma pipoca e assistiria a luta das duas para definir com quem é que eles viveriam felizes para sempre.

Considerando que não existe mais a vontade de investir num sonho com uma mulher feia e que o filme não se passa mais em Marte, o que é que sobra de O Vingador do Futuro (chutarei o engraçadinho que falar “uma teta”)? A resposta é um humor raso, lutas e perseguições mal desenvolvidas, e coadjuvantes que se esforçam para roubar a cena. Bryan Cranston, de Breaking Bad, chama a atenção interpretando o verdadeiro vilão da produção, mas seu personagem é caricato demais para ser levado a sério. Claro que precisamos valorizar o desfecho de sua participação em uma bela homenagem aos momentos finais de Blade Runner, quando Rutger Hauer e Harrison Ford ficam filosofando na chuva.

Se você tiver a opção de procurar o filme original, não deixe passar. O novo Vingador do Futuro tem cara daqueles filmes que pretendem lucrar o máximo possível sem se preocuparem em transmitir mais do que prejuízo para o bolso do espectador ou oportunidades de ficar na última fileira do cinema dando uns amassos com a pessoa dos seus sonhos. Ou o mais próximo disso. Por mais que seja errado avaliar um produto com base em outro semelhante, fica impossível ignorar nossas próprias preferências ao lidar com algo bem inferior e sem identidade, o que pesa bastante na hora de se perguntar se o filme será lembrado daqui alguns anos. Eu acredito que ele não será lembrado nem para a eleição de piores filmes do ano pelo Cinema de Buteco.