Passe Livre

Se houver alguma coisa melhor que ir para o cinema e rir de verdade com um bom filme de comédia, certamente não se enquadra numa categoria de disputa justa. Durante muito e muito tempo, nós do Cinema de Buteco andamos reclamando e procurando comédias decentes na atual safra do cinema norte-americano e foram poucas as produções que mereceram destaque. Um Parto de Viagem, Se Beber, Não Case (ambos contam com a mesma equipe criativa) e alguns dos trabalhos de Seth Rogen, Jonah Hill (brilhante em O Pior Emprego do Mundo) e Judd Apatow são exemplos de boas comédias. Por boa comédia, entenda um filme que nos faz gargalhar tanto quanto em clássicos como Esqueceram de Mim, Top Gang , Duro de Espiar , Spaceballs e vários outros.

Com a direção e o roteiro nas mãos dos irmãos Farrelly (que conseguiram fazer muita gente rir com Debi e Loide e Quem Vai Ficar com Mary?), o resultado final de Passe Livre poderia frustrar as expectativas do público. Apesar de terem bons roteiros no currículo, os irmãos Peter e Bobby escorregaram em seus últimos trabalhos e ficaram “afastados” desde o fraco Antes Só do que Mal Casado de 2007. Felizmente os Farrelly conseguiram reunir um verdadeiro arsenal de piadas politicamente incorretas e assim como causaram com o “gel para cabelo” de Cameron Diaz, algumas cenas de Passe Livre serão bastante comentadas. No fim das contas, trata-se da mesma fórmula com uma história moral e final feliz, mas a forma como tudo isso é desenvolvido faz toda a diferença.

Pela segunda vez em suas carreiras, o casamento é o tema principal da história. Talvez seja uma tentativa de se recuperarem do fiasco de Antes Só do Que Mal Casado, mas não importa muito. Passe Livre é sobre o “sonho” que atormenta 9 entre 10 homens comprometidos: a minha mulher é ótima, mas o que eu não daria para experimentar uma mulher diferente? O que começa como um assunto de bêbados, acaba se transformando em realidade quando as esposas de Rick (Owen Wilson) e Fred (Jason Sudeikis) decidem libera-los do casamento por uma semana. Os dois amigos tem a grande oportunidade de serem “solteiros” novamente e procuram aproveitar a chance para transarem com outras mulheres. Óbvio que não vai ser muito fácil para eles, que não param para pensar que as suas esposas também estão solteiras e à mercê de outros homens. Essa é a senha para inúmeras sequências hilárias e personagens bizarros, como já é de costume nas produções de Peter e Bobby Farrelly.

O conto de fadas às avessas e o sentimentalismo excessivo de O Amor é Cego deixam novas marcas. Dessa vez, depois de pregar sobre os males da monogamia durante mais de uma hora e meia, o roteiro começa a abraçar a ideia do casamento ao mostrar o quanto os personagens se sentem vazios sem a companhia de suas esposas. Só mesmo quem viveu os dois lados da moeda para poder dizer o que pensa sobre a beleza de estar ou não acompanhado e como a maioria das pessoas já passou por isso, Passe Livre tem tudo para conquistar o público fã de boas comédias (de preferência aqueles que estiverem passando por algum momento de turbulência no relacionamento).

Aqueles com um pouco mais de apego aos costumes morais, podem se surpreender (ou ofender) com algumas das piadas (as quais não vou mencionar para não estragar a graça de ninguém) pesadas do filme. Mas esse é o estilo dos Farrelly desde as suas primeiras aventuras atrás das câmeras. Passe Livre marca o retorno dos irmãos e não podia ser uma volta mais triunfal, já que fica praticamente impossível não se envolver com o tema e gostar dos atrapalhados (mas nunca debilóides) personagens. Claro que vai existir uma grande parcela do público criticando o humor ácido de Passe Livre, mas quem vai se importar com isso? O importante é que parece que Peter e Bobby Farrelly estão inspirados novamente e isso cria a expectativa de novas (e ainda mais engraçadas) comédias para nos fazer gargalhar nos cinemas.