Previsões do OSCAR 2013 – Parte III, por Larissa Padron

Como diz o crítico Pablo Villaça, Oscar é eleição, e como toda eleição, há lobby, campanha, etc. É difícil que eleições sejam sempre justas, especialmente quando elas movimentam muuuuuuuuuuito dinheiro, o que é o caso aqui. Por isso, nós cinéfilos sofremos todo começo de janeiro, quando vários filmes e cineastas que amamos ficam longe dos indicados ao prêmio, e nos finais de fevereiro, quando nossos preferidos saem de mãos abanando.

Ainda assim, ano após ano, nós, cinéfilos masoquistas, estamos lá apostando, torcendo e assistindo a cerimônia do Oscar. Não sei se é o glamour da festa ou sua importância para a indústria que nos seduz. Só sei que o evento continua sendo o Natal para os amantes do cinema, e aqui vão os comentários desta sofredora sobre os principais indicados:

Melhor Filme: Meu preferido é As Aventuras de Pi já escrevi mais de mil palavras defendendo ele. Em resumo, fábulas me tocam, e Ang Lee fez isso de uma forma reflexiva e sensível, que faz seu queixo cair com os efeitos visuais. A vitória de Amor me deixaria igualmente feliz. Tio Haneke provou que uma das obras mais cruéis da natureza, o envelhecimento, pode ser mostrada com crueza e delicadeza ao mesmo tempo em um filme que se equilibra entre o desespero e a esperança. Acredito, no entanto, que Argo leve o prêmio, afinal, os votantes da Academia e das premiações dos sindicatos (e o filme venceu em TODAS elas) são praticamente os mesmos. Isso não seria ruim, é um bom filme, que sabe dosar a tensão e o cômico, mas não é o melhor filme do ano. Aliás, não é nem mesmo o melhor filme político do ano. Este papel é cumprido por A Hora Mais Escura. Quem afirma que Bigelow glorifica a tortura ou é excessivamente patriota não assistiu ao mesmo filme que eu. Recheado de críticas sutis aos métodos de tortura e aos EUA, a diretora mostra objetivamente todo o processo de caça ao terrorista mais famoso do mundo. O que poderia ser tedioso é na verdade um thriller tenso, que demonstra com precisão os malefícios psicológicos do trabalho investigativo na vida dos agentes.

Outra crítica que me parece infundada é a de que Django Livre seria racista. O filme mais crítico da carreira de Tarantino (ao racismo, ou vocês acham que seria mais verossímil se o fazendeiro branco sulista e racista chamasse seus escravos de afro americanos ao invés de nigers?) traz reflexões e reviravoltas sensacionais, além de ser extremamente divertido. Temos, é claro, um musical na lista: Os Miseráveis. Também já escrevi sobre ele, e o colocaria sim na lista, mesmo com todos os seus graves problemas (leia-se Tom Hooper). Já não tenho tanta certeza se O Lado Bom da Vida estaria lá se não fosse o selo “Weinstein Co.”. Até gosto do filme, que considero adorável, e, sem dúvida, ele merece todas as indicações para as categorias de atuação. Contudo, a maneira superficial como ele trata problemas psicológicos sérios me incomoda muito. Se fosse um pouco mais dramático, e não tivesse todos os seus clichês sessão da tarde talvez merecesse mais.

E finalmente, os dois indicados mais chatos. Não acho que nenhum dos nove filmes seja ruim, longe disso. Mas vamos lá, Lincolnzzzzzzzzz não é nenhuma uma obra prima, né? É um filme tão burocrático quanto os republicanos. Mesmo tentando desesperadamente nos emocionar (dã, é o Spielberg), não existe nenhuma cena memorável no longa, e nada me faz crer que alguém se lembrará dele daqui a dois anos. A mesma coisa pode ser dita de Indomável Sonhadora, que é bonitinho e tem sim uma ou outra cena forte, mas só. Pelo menos o filme de Zeitlin tem o mérito de ser ousado em seu tema. Pode ser que seja lembrado por muita gente, mas não por mim. Dentre as crianças poderosas eu ainda prefiro a Encantadora de Baleias.

Resumindo: As Aventuras de Pi> Amor> A Hora Mais Escura> Django Livre> Argo> Os Miseráveis = O Lado Bom da Vida> Lincoln = Indomável Sonhadora.

Melhor Diretor: Em um mundo perfeito Kathryn Bigelow, Quentin Tarantino, Ben Affleck e Paul Thomas Anderson estariam aqui substituindo qualquer um dos indicados (menos Haneke e Lee). Seria uma surpresa linda (porque realmente não acho que vai acontecer) ver Haneke ganhando, por ele ser um diretor sempre ousado e extremamente preciso, além de nunca ter sido nem ao menos indicado. Lee já ganhou (merecidamente), e eu gostaria de ver o diretor mais sensível e eclético da atualidade com duas estatuetas. Na minha aposta de quem ganha estou dividida entre ele e Spielberg, mas ainda acho que esse último sairá vitorioso, uma vez que Lincoln não levará mais nada, e a Academia gosta dele. Mas é meio indigno, né? Vencedor do Oscar por A LISTA DE SCHINDLER, O RESGATE DO SOLDADO RYAN e… Lincoln? Não é justo. No entanto, é mais justo que ganhar o David O. Russell, que foi competente, mas não fez nada de mais, ou o Benh Zeitlin, porque tremer câmera não é mais moda indie há um bom tempo.

Melhor Atriz: Emmanuelle Riva é minha preferida; é só você assistir ao Amor e perceber toda a angústia que ela exprime em seu corpo paralisado e entenderão o porquê. Ou não, mas acho que deveriam. Creio, entretanto, que Jennifer Lawrence leva, e não é injusto; a cena do ataque de Tiffany em frente ao cinema é de uma atuação sensacional. Jessica Chastain está brilhante como Maya, com todo o controle de quem tenta disfarçar um ataque de nervos. Naomi Watts passa metade de O Impossível longe das câmeras, mas na outra metade faz valer a indicação. Consoantes está aqui só para bater o recorde da indicada mais jovem.

Melhor Ator: Daniel Day-Lewis leva, até o próprio ator já sabe disso. Ele É o Lincoln. Ainda que seja justo, eu preferiria ver Joaquin Phoenix vencedor, porque, mesmo que você deteste ou não entenda nada de O Mestre, vale a pena ver o cara dando vida ao bêbado no filme. Bradley Cooper e Hugh Jackman estão muito bem em seus papéis, mas colocaria facilmente John Hawkes, de As Sessões, e Jean- Louis Trintignant, de Amor, no lugar deles, porque ambos estão sensacionais. E digo isso porque não vi O Voo, então não posso opinar sobre Denzel Washington, mas nunca fui muito simpática a ele.

Melhor Atriz Coadjuvante: Todo mundo sabe que Anne Hathaway vai ganhar: ela e o Day-Lewis já decoraram o discurso. É merecido, mesmo ela tendo aparecido só por 20 minutos de filme? É gente, vocês viram todo aquele sofrimento em “I Dreamed a Dream”? Ainda assim, acho que preferiria ver Amy Adams ganhando; a esposa do Mestre sabe dosar carinho e controle de uma maneira assustadora, além do fato que a atriz já merecia ter ganhado há umas três edições. Eu não sei o que Helen Hunt faz aqui, considerando que ela é tão protagonista de As Sessões quanto Hawkes. Poderia estar indicada no lugar da Consoantes. A vitória dela, no entanto, me deixaria feliz; o papel é dificílimo (tente você ficar pelada tantas vezes em um mesmo filme), e ela o desempenha muito bem. Gosto de Jacki Weaver, mas confesso que achei sua indicação exagerada, devido ao pouco tempo de tela. Sally Field não, né? Já foi seu tempo e época de boas atuações, moça.

Melhor Ator Coadjuvante: A categoria mais imprevisível, pois todos aqui já ganharam antes e não existe essa de prêmio de consolação. Se DiCaprio tivesse sido indicado, receberia meu voto. Gostaria de ver o De Niro ganhando, porque ele finalmente se esforçou, saiu da zona “pagando bem que mal tem” e atuou de verdade. O personagem é pequeno, mas complexo, e ele dá um peso enorme ao pai de Pat. Estou na dúvida entre ele, Tommy Lee Jones (que merecia no mínimo um troféu jóinha por ser o único personagem simpático de Lincoln) e Philip Seymour Hoffman, que só não é o mais brilhante de O Mestre porque Phoenix lutou muito pela posição. Alan Arkin não ganha; gosto do personagem, mas acho que só foi indicado porque nenhum outro ator de Argo fez por merecer. Waltz está genial como sempre, e merece um parabéns por, pela primeira vez, interpretar um personagem que não é moralmente detestável.

Melhor Roteiro Original: Se existe uma coisa que Tarantino sabe fazer é escrever roteiros. É o meu preferido na categoria, e acho que a Academia vai dar esse tapinha nas costas do diretor. Moonrise Kingdom também tem chances, já que é a única indicação do filme e é um roteiro muito elogiado. A Hora Mais Escura merece destaque, pois é muito difícil manter a sua estrutura sem cair na mesmice.

Melhor Roteiro Adaptado: Não dá pra morrer de amores por nenhum dos indicados. Acho os roteiros de O Lado Bom da Vida Lincoln muito problemáticos. Nenhum dos dois desenvolve bem seus personagens. Não vejo nada de mais no roteiro de Indomável Sonhadora, e acho que, mesmo com a excelente estrutura, Argo deve muito aos fatos reais, já que é isso que torna a história fascinante (saber que aquilo realmente aconteceu). O grande destaque de As Aventuras de Pi não é o roteiro, embora este seja bem eficiente.