Sintonia de Amor

 

sintonia de amor

PARA TODOS AQUELES QUE INSISTEM EM ALIMENTAR PRECONCEITOS CONTRA COMÉDIAS ROMÂNTICAS, Sintonia de Amor é um belo exemplo de que é possível encontrar cinema de qualidade no meio de um romance inocente e até bobinho. Escrito e dirigido por Nora Ephron, uma verdadeira mestre do gênero, o longa-metragem estrelado por Tom Hanks e Meg Ryan é uma daquelas pérolas que você pode sentar e assistir a qualquer momento e se deliciar sem a menor culpa. Sim, mesmo com a presença da Meg Ryan, você pode gostar desse filme sem precisar incluir na sua lista de guilty pleasures.

A trama é a seguinte: Sam Baldwin é um arquiteto que acabou de ficar viúvo e se mudou para outra cidade com o filho, que num belo dia ficou de saco cheio da depressão do pai e ligou para um programa de rádio para tentar encontrar uma esposa para ele. Annie Reed estava viajando para encontrar o noivo e acabou ouvindo a tocante história de Sam. De uma forma inexplicável, Annie fica apaixonada pela voz que escutou na rádio e começa a se perguntar se está para se casar com a pessoa certa ou não.

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O diferencial de Sintonia de Amor para outras produções do gênero é que o casal principal praticamente não se encontra (são pouco mais de dois minutos juntos). Eles sequer se conectam diretamente, sendo sempre necessário que uma terceira parte se envolva para tornar os contatos possíveis. Mesmo assim, Ephron consegue manter a atenção do público em todas as cenas. O sucesso está em trabalhar com emoções reais e que podem atingir qualquer pessoa comum: quem é que nunca sentiu uma faísca diferente ao tocar a mão de outra pessoa ou sabe como é aquele friozinho na barriga quando a outra pessoa diz exatamente a mesma coisa que você acabou de dizer? Ou se sentiu enfeitiçado por uma completa desconhecida, ao ponto de tentar encontra-la sem ter a menor ideia do que poderia dizer? A diretora consegue capturar todos esses pequenos detalhes para criar uma trama simples, mas capaz de atrair tanto os homens quanto as mulheres, que naturalmente são o público alvo do romance.

O roteiro de Sintonia de Amor repete praticamente o tempo inteiro que existem filmes compreendidos apenas pelo público feminino. É uma brincadeira com os pré-conceitos das comédias românticas, que na maioria das vezes despertam sentimentos distintos nos homens e nas mulheres. O longa usa o clássico Tarde Demais Para Esquecer, de 1957, para explicitar essas emoções. Todas as personagens femininas (independente da idade) se afogam em lágrimas cada vez que assistem ou simplesmente comentam o romance estrelado por Cary Grant e Deborah Kerr, enquanto os homens se olham entediados e ficam sem enteder o motivo de tanta comoção. Outras duas obras são mencionadas ao longo de Sintonia de Amor: Atração Fatal, como justificativa para Sam não querer ir se encontrar com Annie no Empire State; Os Doze Condenados, como o tipo de obra que emociona os personagens masculinos da trama.

Repare bem na introdução, pouco antes de embarcar para Seatle, Sam está completamente desolado e reclamando com sua irmã que é praticamente impossível se apaixonar novamente. “Essas coisas não acontecem duas vezes”, ele diz. Com o clima armado, os créditos começam com a canção tema do maior romance da história do cinema Casablanca: “As Time Goes By”.

sintonia de amor tbCurioso notar que em 1993, Hanks ainda tinha cabelos. Para a maioria dos espectadores
mais jovens é sempre uma surpresa revisitar/descobrir filmes em que os atores aparecem com uma aparência física bem diferente das que exibem atualmente. Só não é mais assustador que ver a versão cabeluda do Bruce Willis, o que provavelmente não deve passar de ilusão de ótica. O ator encanta não por ser modelo de beleza, mas por encarnar o modelo do cavalheiro que muitas mulheres apaixonadas sonham em conhecer.Sintonia de Amor preza por tentar se manter o menos fantasioso possível (embora a intervenção do pequeno Jonah seja meio forçada e irritante – não necessariamente nesta ordem) e acerta nos seus personagens, que são carismáticos na medida certa para conquistar e convencer o espectador.

Existem clichês óbvios do gênero, como aqueles irritantes encontros/desencontros ou as brigas – mas não tem nenhuma perseguição romântica -, só que todos eles são usados de maneira inteligente e por quem acabou se tornando verdadeira referência no assunto. Nora Ephron voltaria a trabalhar com Meg Ryan e Tom Hanks em 1998, no igualmente divertido Mens@gem Para Você. Mas não existe a menor dúvida que Sintonia de Amor é uma obra indispensável na lista de qualquer um, seja homem ou mulher, que goste de histórias de amor bem escritas e dirigidas. E não se incomode se um cisco imenso cair nos seus olhos durante o filme: acontece com todo mundo. 


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Nota:[quatro]