Star Wars Uncut

DARTH VADER É UMA GARRAFA DE BLACK LABEL, uma criança com saco preto na cabeça e o Watson, amigo de Sherlock Holmes. Chewbacca é um gordão, um gorila, um bonequinho e inúmeros cachorros. C-3PO é um ursinho de pelúcia, um vira-lata embrulhado em papel alumínio, vários marmanjos em roupas amarelas e o Homem de Ferro.

Esse surrealismo nerd é a alma de Star Wars Uncut, uma recriação do Episódio IV perpetrada por centenas de fãs entusiásticos e costurada pelo idealizador do projeto, o americano Casey Pugh. A ideia de Pugh foi dividir o filme original em quase 500 pedacinhos de 15 segundos e pedir que os internautas reinterpretassem suas cenas escolhidas da forma como desejassem. Uma versão “suecada”, à la Rebobine, Por Favor, feita por trocentos Jack Blacks diferentes.

É difícil imaginar uma obra mais adequada a um projeto assim do que Star Wars. Com uma imensa base de fãs ferrenhos e uma popularidade que se recusa a esmorecer, a saga ainda se beneficia da nerdice inerente aos seus entusiastas e da incrível quantidade de bugigangas lançadas com o selo Star Wars, incluindo bonequinhos, naves, sabres de luz e fantasias oficiais. Assim, mesmo refilmagens caseiras ganham um ar mais profissa quando usam miniaturas detalhadas de um X-Wing ou uniformes autênticos de Stormtroopers.

Mas a maior diversão de Star Wars Uncut não é quando as recriações das cenas são fiéis, e sim quando se tornam imprevisíveis. Muitas são tosquíssimas: gente que filma na mesa da sala, usa a avó como a Princesa Léia, corre com toalha na cabeça pra fingir que é a Millennium Falcon, transforma espremedores de alho em dróides e cria animações rupestres no Paintbrush. Outras, igualmente criativas, surpreendem pela técnica, principalmente as animações bem trabalhadas – 2D, 3D, stop-motion, tem de tudo. E como todas as cenas têm apenas 10 a 15 segundos, se um trecho é particularmente chato ou incompreensível, você não precisa esperar muito pra topar com uma versão completamente diferente.

E tome bonequinhos (não só de Star Wars, mas também Lego, Playmobil, Kinder Ovo, Tartarugas Ninja, Meu Querido Pônei e Sr. Cabeça de Batata), animais (cachorros, gatos e até furões em uma caixa de papelão), muitos bebês, crianças e pré-adolescentes, zilhões de referências (Casablanca e O Sétimo Selo convivem com Teletubbies, Vila Sésamo, Jay & Silent Bob e uma participação piscou-perdeu de Jar Jar Binks) e uma diversidade incrível de estilos – de cinema mudo a sitcom japonesa, passando por noticiário de TV, conversa no MSN, programa de rádio, propaganda estilo Shoptime e musical com auto-tune.

Todos os videozinhos foram disponibilizados no site oficial de Star Wars Uncut para apreciação e escrutínio público, e depois de uma montagem mais cuidadosa foram reunidos em Star Wars Uncut – Director’s Cut, com as versões mais bem votadas dos quatrocentos e setenta e três trechos que formam a história completa de Uma Nova Esperança. Ainda que falas sejam cortadas no meio de uma frase e um bonequinho de Jabba the Hutt vire uma grávida barriguda em um piscar de frames, a edição supervisionada por Casey – que incluiu a trilha original de John Williams e vários efeitos sonoros – garante a continuidade do filme e torna tudo mais fluido.

Nem é necessário avisar que você tem que ser familiarizado com Star Wars pra ​poder curtir o projeto, mas também não precisa ser aficionado (eu estou longe de ser um e achei um barato). Você pode dar o play aqui 
e assistir ao Director’s Cut, mas como ver um filme de 2 horas no Youtube não é lá a experiência mais prazerosa do mundo, é só fuçar um pouco que você encontra nos torrents da vida.

​Segundo o site do projeto, Casey Pugh e sua trupe têm mais filmes suecados em seus planos, embora o envio de material ainda não tenha nem começado. Mal posso esperar para participar de um The Empire Strikes Back Uncut.