critica o acampamento

Crítica: O Acampamento (2016)

O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A crítica de O Acampamento possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.

poster o acampamentoOUVI FALAR DE O ACAMPAMENTO HÁ ALGUM TEMPO. Imediatamente entrou na minha lista de “must see” do ano, afinal criar essas listas em dezembro é algo que toma muito trabalho e sem planejamento antecipado, seu material fica aquém do ideal para realmente prestar um serviço de qualidade para os leitores do Cinema de Buteco. Parecia um daqueles thrillers sufocantes, um autêntico filme que se passa numa cabana/acampamento, ou seja, algo essencial.

Escrito e dirigido por um caboclo chamado Damien Power, O Acampamento (Killing Ground, 2016) é dividido em duas narrativas. Inicialmente ficamos confusos sem entender a linha temporal, mas logo tudo é esclarecido e descobrimos como é que os dois núcleos se misturam através de dois caçadores pudins de cachaça. Para a tristeza dos outros personagens, cruzar com esses caras acaba sendo um verdadeiro pesadelo.

Primeiro conhecemos um jovem casal apaixonado que decide tirar uns dias para acampar e descansar. Notável como de cara é estabelecido os papéis entre os dois: Samantha (Harriet Dyer) pede seu namorado em casamento. Ian (Ian Meadows) pergunta se ela está falando sério e aceita logo depois. É bem cru, sem firulas ou trilha sonora grandiosa. Eles estão sozinhos num acampamento e tomam essa escolha racional. Gosto da forma como o diretor escreveu esses personagens e a praticidade com que encaram a vida.

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Quando a situação aperta e eles ficam diante o perigo, no entanto, descobrimos do que cada um deles é feito. Sam resiste bravamente ao seu sequestrador e às ameaças de acabar estuprada ou morta. Já Ian, tenta sobreviver observando tudo de longe e fugindo na sua primeira oportunidade. Para Sam (e o público), a fuga na verdade foi uma forma de tentar salvar a vida do bebê Ollie. A covardia de Ian se transformaria numa escolha dolorosa, nesse caso. Só que descobrimos que o rapaz apenas fugiu sem se preocupar em salvar o bebê ou qualquer coisa que não fosse o próprio pescoço.

Já o segundo núcleo é sugerido assim que Ian e Sam chegam no acampamento. Eles notam que existe uma barraca já montada e estranham porque não parece existir ninguém por perto. O que eles não sabem é que menos de uma semana atrás uma família estava descansando naquele mesmo lugar e acabou tendo o azar de cruzar o caminho dos psicopatas Chook e German. Esse encontro resultou em agressões sexuais que terminaram com a execução da filha adolescente, da esposa e do marido. Os assassinos ainda iam atrás do pequeno bebê Ollie, que por sorte havia fugido da cabana e se perdido no mato.

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O Acampamento é um longa-metragem pesado. A frieza que usei para descrever a forma como o casal decide se casar também pode ser usada para falar da maneira como Power trata seus personagens. Chook e German, dois desajustados perigosos, surgem como verdadeiros monstros capazes de qualquer coisa para saciar seus desejos primitivos. Inspirado em produções de sobrevivência norte-americanas que ficaram famosas na década de 1970, o diretor poupa seu público de presenciar cenas gráficas de estupro, mas não deixa de nos chocar quando deixa o corpo nu da adolescente inerte num canto qualquer. O ímpeto cruel e visceral dos assassinos foi capaz de transformar uma pessoa em um objeto jogado depois de perder seu uso.

Uma das cenas mais brilhantes (e tensas) é um plano sequência em que Sam aparece andando sem notar que está sendo seguida por um bebê, o próprio Ollie, que conseguiu achar o caminho para o acampamento. Dá uma sensação muito ruim ver a criança indefesa cambaleando e a moça totalmente alheia ao que está prestes a acontecer.

Recomendado para fãs de bons filmes de suspense, O Acampamento figurou na nossa lista de recomendações do mês de agosto e certamente será lembrado em dezembro com nosso ranking de destaques de suspense.