Top 5 Filmes Românticos: Fernando Scoczynski

“Quando o Tullio me convidou para fazer um top 5 de filmes românticos pro Cinema de Buteco, a primeira coisa que pensei foi “POR QUE EU?”. Hesitei, e avisei que não sou lá o maior fã do gênero. No entanto, depois de pensar um pouco sobre o que incluiria na lista, lembrei que gosto muito de certos filmes de romance – em especial, gosto da forma como eles vão na direção oposta da maioria do gênero. Tenho aversão às comédias românticas populares que surgem ano após ano, comercializando-se como “entretenimento para casais”, e deixam na obscuridade outras obras muito superiores. Também não sou fã do anti-humor do Woody Allen, ou dos contos de fadas absurdos de Cameron Crowe. Logo, decidi montar uma seleção de “injustiçados” que falam sobre romance tão bem quanto (ou, muitas vezes, melhor que) os filmes que são frequentemente lembrados nesse tipo de lista.
5- Up In The Air: Começamos com o que é, provavelmente, o mais amargo da lista. O diretor Jason Reitman atingiu um sucesso absurdo com seu filme anterior, Juno, uma bela história que foi reconhecida igualmente nos círculos mainstream e indie. Certamente, Juno é bom, mas o romance retratado nele é um tanto juvenil, e seus personagens parecem mais caricaturas do que humanos de verdade. O trabalho seguinte de Reitman, Up In The Air, parece ter sido uma resposta direta a essas críticas: seus personagens são adultos, com problemas realistas, lutando para dar conta suas vidas amorosas (e seus empregos). O fim do filme é surpreendentemente bom, e escapa, com muita classe, da praga da previsibilidade que comédias românticas geralmente sofrem.
4- High Fidelity: Entre os vários filmes românticos de John Cusack, este é um dos poucos que realmente gosto. Toda a história é permeada por uma temática musical, com personagens que representam os vários tipos de fãs de rock que vemos no dia-a-dia, sem os exageros de, digamos, Quase Famosos. O personagem de Cusack, em particular, parece sempre estar mais apaixonado pelo rock do que pelas mulheres que namora. Para tentar dar reconquistar sua ex, ele faz um “top 5” de seus relacionamentos passados, e investiga o que deu errado em cada um. Como listas “top 5” musicais eram uma especialidade dele, acabou sendo a maneira ideal de conciliar sua paixão musical com sua vida amorosa. Claro, é uma forma imatura de lidar com um relacionamento, que não aconselhamos a ninguém, mas também é divertidíssima de se assistir.
3- Before Sunset: O filme mais “sério” deste top 5, uma sequência de Before Sunrise (1995), é quase inútil de se descrever, pois parece algo mundano e entendiante no papel: basicamente, só há dois atores, interpretando um casal que se reencontra após 9 anos, e passa toda a duração do filme conversando sobre o que aconteceu no tempo que passou. Somente assistindo ao filme é possível perceber toda a riqueza do diálogo, e como a relação entre os dois atores foi criada com muito cuidado, dando grande credibilidade ao envelhecimento deles. É quase impossível não se envolver na história dos personagens e “torcer” por um final feliz. Sem dar nenhum spoiler, o filme acaba da forma mais “adulta” possível, e serve como perfeito exemplo de como fazer uma sequência que consegue viver separadamente do filme original, mas termina o arco da história de forma coerente.
2- Scott Pilgrim Vs. The World: pensei seriamente em incluir Shaun of the Dead na lista, mas acabei optando pelo terceiro filme do diretor Edgar Wright, que tem mais a ver com a proposta romântica da lista. Mais uma entrada no sub-gênero “jovem apaixonado que tem que amadurecer para conquistar garota dos sonhos”, é o primeiro a perceber que há poucas variáveis possíveis num roteiro desse tipo, e decide apelar para o absurdo. Basicamente, Scott Pilgrim Vs. The World é uma adaptação de um videogame que não existe, inspirando-se no estilo visual de games. Assim, cria premissas quase ridículas para o personagem central, Scott, derrotar os 7 ex-namorados de sua amada Ramona (em duelos até a morte, diga-se de passagem), e finalmente ter o direito de namorá-la. Mesmo que o filme tenha cenas de ação e efeitos visuais espetaculares, o núcleo da história nunca se afasta do relacionamento entre Scott e Ramona, deixando bem claro que sua relação conturbada é o que alimenta todas as cenas. Combinando os melhores elementos de um blockbuster de ação com uma comédia romântica adorável, é quase impossível não se entreter. É uma pena que Michael Cera, o ator principal, tenha feito tantos outros filmes “adolescentes” em sua carreira, causando uma sobre-exposição que até hoje afasta pessoas deste filme – sem dúvida o seu melhor trabalho. (A versão em DVD tem até um final alternativo, para aqueles que eventualmente se decepcionarem com o destino amoroso de Scott).
1- Groundhog Day: se há um filme que pode aparecer nas listas “normais”, é este. Porém, parece que muitos esqueceram esta obra-prima, que é provavelmente a melhor atuação da carreira de Bill Murray (e sei que esse comentário causará controvérsia). Para aqueles que ainda não assistiram ao filme (um erro que vocês devem corrigir o mais rápido possível), ele conta a história de um jornalista que, sem muita explicação, é forçado a viver o mesmo dia, todos os dias de sua vida, acordando sempre em 2 de fevereiro. Esta repetição tem um óbvio valor cômico (que Murray executa com perfeição), e demonstra muito bem as diversas maneiras pelas quais qualquer pessoa em sã consciência tentaria explorar a situação. Que homem não aproveitaria a chance de conhecer tudo o que pode sobre uma mulher, para no dia seguinte encontrá-la novamente, como se pela primeira vez, e fingir que entende todas as necessidades dela? Porém, a verdadeira lição do filme se dá quando o protagonista percebe que, para conquistar a pessoa que realmente quer, ele tem que mudar, e se tornar a melhor versão possível de si mesmo – outra cenário que espectador certamente se imaginará protagonizando. A trajetória de Murray no filme é entretenimento puro, não deixando a desejar em nenhum aspecto (nem o seu desfecho). É tanto o filme mais romântico desta lista, quanto o melhor dela. Esteja você namorando ou não, não há por que não ver.
Fernando Scoczynski (@fernandodante) é famoso por seus comentários sarcásticos,
defende as suas ideias e opiniões no site musical Antiquiet e no Omelete.