Crítica: Como Matar a Besta (2021)

Primeiro longa-metragem da diretora argentina Agustina San Martín, Como Matar a Besta é uma coprodução brasileira com Argentina e Chile e traz uma carga sombria e melancólica em ritmo lento à jornada da protagonista. A jovem Emilia (Tamara Rocca) está em busca do irmão, chega a uma cidade afastada e influenciada pela religião e se hospeda na casa de uma tia que não é o que podemos chamar de pessoa receptiva. A comunicação é muito difícil e, como se não bastasse, a população da região relata aparições de uma assombração que consegue passar por diversas formas de animais.

O clima de desconfiança se instala no vilarejo e o que já não parecia muito convidativo, no primeiro momento, pode se tornar pior. A hostilidade, presente desde o começo, vai além.

Nas mãos de um cineasta megalomaníaco, a história poderia receber uma alta de jumpscare e se tornar algo genérico, mas a direção de San Martín é marcante e tem o seu próprio tempo, trazendo cada elemento da narrativa no momento mais oportuno. A curiosidade e a tensão são semeados cena após cena e as sensações ao longo do filme se misturam.

A jornada de Emilia em busca do irmão é marcada por situações que a protagonista não havia previsto e, em diversos momentos, o espectador pode se perguntar como ela foi parar em algumas posições. Não se trata apenas da busca pelo irmão  que não entra em contato há tempos, é também uma jornada de autodescoberta.

O ritmo arrastado do filme, apesar de ser um fator apreciado por parte do público, pode se tornar uma armadilha e deixar a narrativa um pouco cansativa. Como Matar a Besta tem apenas 79 minutos que parecem 3 horas, tornando a experiência do filme branda. O terror, construído pouco a pouco, vem muito da incerteza do que deve ser temido e é por isso que se torna, de fato, assustador. O desconhecido sempre foi capaz de assustar até mesmo os mais valentes.

O maior desafio do filme, talvez seja, não permitir que o espectador disperse ao longo de sua breve, porém exaustiva, duração.

Em entrevista ao site The Talks, a diretora Agustina San Martín disse Sempre tive sonhos memoráveis dos quais me lembro perfeitamente. E sempre deixo a porta aberta para eles, pois me mostram as coisas”, e isso faz ainda mais sentido quando prestamos atenção à atmosfera do filme. Em muitos momentos, parece um sonho, daqueles que nos perturbam por queremos dar sentido a eles ou, ao menos, deixar a sua cronologia mais compreensível.

Filmado parcialmente na Região das Missões, no sul do Brasil, e norte da Argentina, e com uma breve e potente participação de João Miguel (Estômago)Como Matar a Besta estreia nos cinemas nesta quinta-feira, dia 28 de abril, nas cidades de Aracaju, Balneário Camboriú, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Goiânia, Maceió, Manaus, Palmas, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.