Crítica: Fuga no Século 23 (1976)

poster-fuga-no-seculo-23CLÁSSICO DA LITERATURA SCI-FI, a obra escrita por William F. Nolan e George Clayton Johnson virou filme quase dez anos depois do seu lançamento. Com direção de Michael Anderson e estrelado por Michael York, Richard Jordan e Jenny Agutter, a trama conta a história de uma distopia na qual toda a humanidade vive num verdadeiro paraíso em que não falta dinheiro, comida e diversão, mas que a vida chega ao fim no dia em que as pessoas completam 30 anos.

Recentemente tivemos O Preço do Amanhã, com Justin Timberlake, nos cinemas e a referência mais óbvia do longa-metragem é justamente Fuga no Século 23. Ainda que eu prefira a estética das produções atuais, não dá nem para comparar a qualidade e até relevância entre as duas obras.

Existe uma relação muito interessante construída naturalmente entre Logan (York) e seu melhor amigo Francis (Jordan). A dupla trabalha junto como encarregados de recuperar qualquer um que tente fugir do sistema. No primeiro ato existe uma sequência de perseguição muito incômoda, na qual os dois agem como verdadeiros maníacos. No entanto, depois que Logan recebe uma missão secreta, as coisas começam a mudar e Francis logo se torna o inimigo justamente por se sentir traído e buscar vingança. Algo parecido acontece em tantas outras obras, não é mesmo? O amigo vira o seu pior inimigo.

York com a sua cara de boneco de cera e cabelo intocável é um ponto negativo da produção que curiosamente funciona. É irritante e chega a dar vontade de rir de tão canastrão, mas ao mesmo tempo é eficiente para retratar um personagem que não possui a menor noção do mundo em que vive e de repente descobre que existe muito mais. A sequência em que Logan tenta impedir as pessoas de irem acompanhar o “processo de renovação” gritando do alto de uma sacada é bem tosca e York chega a fazer caras de gente maluca, no melhor estilo Nicolas Cage. É o resumo da parada que tinha tudo para dar errado fora de contexto e que atende bem as necessidades da obra.

Um detalhe que não passou em branco foi o tal do “circuito”. Basicamente, as pessoas possuem um sistema bem real de buscar satisfação sexual. É um Tinder futurista em que você dá match na pessoa, puxa ela para a sua casa e vocês fodem a noite toda – ou enquanto durarem as suas baterias.

Aliás, o sexo é tão estimulado entre essas pessoas que existe até uma Sala do Amor na cidade. Tudo acontece numa sequência que tenta emular efeitos de drogas alucinógenas, que no caso são combinadas com desejos carnais de um bando de mulher e homem sem roupa e com muito tesão correndo atrás do casal principal. Literalmente, sabe?

Combinando ficção-científica com aventura e muitas reflexões filosóficas, o longa é um excelente representante do gênero para quem busca sempre aumentar seu conhecimento sobre cinema. Fuga no Século 23 é obrigatório para qualquer pessoa que considere O Planeta dos Macacos e 1984 obras essenciais para entender bem o universo sci-fi. Não é por acaso que a produção figura entre nossos dez filmes favoritos lançados em 1976.