Leonardo Lopes e os filmes assistidos em fevereiro

Seria A Grande Aposta o novo favorito ao Oscar de melhor filme

PARA MINHA ESTREIA NESTA NOVA COLUNA DO CINEMA DE BUTECO, já iniciarei a subversão de suas regras. Considerando que, no mês que abriu 2016, eu assisti a apenas uma dezena de filmes, decidi segurar minha participação para a inclusão dos mais dez títulos conferidos em fevereiro e, assim, excepcionalmente abordarei os dois meses neste conjunto de textos – mas, prometo (ou quase), que será a última vez; daqui para a frente, o ciclo mensal será fielmente seguido. Confiram aquilo que eu gostei ou desgostei durante o primeiro sexto deste já longo 2016:

1- A Grande Aposta [visto em 11 de janeiro, no cinema]
Enxergar a economia mais profundamente como um leigo pode ser, de fato, desgastante e tedioso. Para um longa-metragem, parece ainda mais difícil assumir isto – é mais simples para um roteiro forjar intelectualismo e soar mais inteligente do que de fato é para o espectador, através da complicação de um tema já complexo. A Grande Aposta, no entanto, entende perfeitamente isto – e, ao fazê-lo, garante o seu maior mérito.

Com inserções orgânicas e irreverentes – destaque para Margot Robbie numa banheira – com a função de expor para o espectador conceitos da trama – quebrando o dogma da abordagem da temática no Cinema -, uma atmosfera próxima ao documental – sobretudo remetendo ao estilo de Michael Moore – e quebras constantes da quarta parede, o filme de Adam McKay torna um tema rochoso um espaço farto para a realização de uma narrativa honesta e autêntica, atribuindo o “fator humano” a uma questão tão distanciada de nossa compreensão. [4/5]

2- Sicario: Terra de Ninguém [visto em 12 de janeiro, no avião]
Dennis Villeneuve continua sendo um mestre em nos levar a um desgaste quase físico enquanto acompanhamos as personagens de seus filmes, embora a trama de Sicario não o dê um material tão envolvente quanto o d’Os Suspeitos, por exemplo, para fazê-lo. No mais, Emily Blunt e Benicio del Toro estão ótimos. [4/5]

3- A História Verdadeira [visto em 12 de janeiro, no avião]
Todos aqueles que debruçam-se sobre a escrita e a comunicação conhecem a importância da ferramenta textual da “piscadinha”, conforme explicado por Michael Finkel (Jonah Hill) ao enigmático Christian Longo (James Franco). Numa reflexão sobre a invalidez de um pré-julgamento e mesmo sobre a essencialidade da linguagem escrita, nosso entendimento deste será intensificado. [4/5]

4- Biutiful [visto em 12 de janeiro, no Netflix]
Biutiful é como um mergulho profundo no sentimento contínuo de profunda melancolia e desorientação provocado por uma experiência como aquela vivida por seu protagonista.
Ou seja: mesmo que você não tenha, por vivência própria, noção do que este representa, Iñarritú torna impossível não experimentar as sensações que Uxbal vive, numa retratação tão honesta e legítima. [5/5]

5- O Abutre [visto em 25 de janeiro, no Netflix]
Nesta revisão, reforço aquilo que escrevi, na época da primeira visita, aqui neste mesmo site: “(…) A crueza desta sequência é tematicamente a mais adequada à uma narrativa que adota esta proposta em todo o seu andamento – e ainda bem que o faz.”, confira o texto na íntegra. [4/5]

6- Joy: O Nome do Sucesso [visto em 26 de janeiro, no cinema]
É curioso que, no projeto onde os excessos de David O.Russell mais se expuseram, Jennifer Lawrence tenha entregado sua melhor atuação sob o comando do diretor. [3/5]

7- Trapaça [visto em 27 de janeiro, em blu-ray]
Ainda no clima do razoável Joy, decidi rever o melhor trabalho de O.Russell e filme mais subestimado de 2014. Reforço meus pensamentos da época de lançamento: embora o realizador utilize elementos já conhecidos para contar sua história, os emprega num mundo repleto de personagens instigantes, complexos, imprevisíveis e acima de tudo humanos. E este mundo é fascinante. [4/5]

8- Pontypool [visto em 28 de janeiro, no Netflix]
Recomendação do grande Andrey Lehnemann, Pontypool conduz o terror com mais sugestão do que exposição – e esta abordagem é a que mais me agrada no gênero. Além disso, ainda insere uma reflexão inesperadamente instigante a respeito do poder da comunicação em nossa espécie. [4/5]

9- Rede de Intrigas [visto em 28 de janeiro, no Netflix]
Outra revisão em momento oportuno – estava prestes a começar meu curso de jornalismo -, a obra de Sidney Lumet está mais atual do que nunca. [5/5]

10- Mais Estranho que a Ficção [visto em 30 de janeiro, em DVD]
Os dois primeiros atos deste drama – não se engane com o protagonismo de Will Ferrell – são admiráveis do ponto de vista de autenticidade temática e narrativa; uma pena que, no terceiro ato, perca um pouco do brilhantismo ao render-se a algumas convenções e fórmulas em vista de cumprir objetivos comerciais – justamente aquilo que sua autora fictícia, vivida por Emma Thompson, abominaria. [3/5]

11- O Presente [visto em 01 de fevereiro, no Netflix]
Joel Edgerton promete na direção. Como seus primeiros enquadramentos já sugeriam – a personagem sempre à direita na tela -, o suspense seria vivido pela ótica de Robyn (Rebecca Hall). Filme sóbrio, e com um clima sórdido e tenso. [4/5]

12- Amores Brutos [visto em 03 de fevereiro, no Netflix]
Prefiro Iñarrítu sem o misto de histórias. Embora as três subtramas sejam dramaticamente envolventes, os elementos inseridos pelo roteiro – especialmente visuais – para uni-las tiram um pouco da atenção, não soando tão orgânicos. Destaque para mais uma grande atuação extraída pelo diretor: Gael García Bernal. [3/5]

13- O Novíssimo Testamento [visto em 05 de fevereiro, no cinema]
Extraio um trecho do meu texto, que será publicado em breve: “(…) no roteiro de Thomas Gunzig e Jaco Van Dormael em O Novíssimo Testamento (“Le Tout Nouveau Testament”) apresenta seus conceitos de maneira sagaz e ácida, (…) Ao adotar a estrutura em série de cumprimento de objetivos, com Ea seguindo os passos do irmão mais velho e conquistando progressivamente cada um de seus seis discípulos, O Novíssimo Testamento acaba entregando-se parcialmente à mesmice – algo de que antes parecia tão distante. (…)”. [3/5]

14- Tirando o Atraso [visto em 06 de fevereiro, no cinema]
“Desde que dotasse de um roteiro mais focado em desenvolver estas situações inegavelmente divertidas com as quais conta de maneira mais coerente, Tirando o Atraso poderia ir além de uma comédia bacaninha com algo a dizer – especialmente se não fizesse o desnecessário uso de um lema militarista para justificá-lo. Hipotético.”, confira o texto na íntegra. [2/5]

15- Spotlight – Segredos Revelados [visto em 10 de fevereiro, no cinema]
Extraio um trecho do meu texto, que será publicado em breve: “(…) que bom que este tenha sido conduzido de maneira tão sóbria – assim, há muito mais espaço para seu rico debate temático; este é, no devido contexto, o que deve estar sob o holofote.” [5/5]

16- Fim dos Tempos [visto em 12 de fevereiro, no Netflix]
Que horror, Shyamalan. Mesmo os absurdos da trama poderiam ser aliviados por uma direção virtuosa e inspirada de um sujeito tão talentoso no trato da forma e da linguagem; no entanto, inspiração parecia faltar e muito ao Shy nesse projeto deslocado. [1/5]

17- O Regresso [visto em 13 de fevereiro, no cinema]
Escrevi uma série de impressões sobre este grande filme ao final da sessão; no entanto, ainda não consegui organizá-las em forma de texto. Posso guardar para ele? Ótimo. Sabia que podia contar com vocês. [5/5]

18- O Quarto de Jack [visto em 24 de fevereiro, no PC]
A proposta de uma amenização tão grande sobre uma história tão pesada, grave, não é algo que me agrada muito; e embora haja conteúdo de sobra para um drama instigante, o diretor Lenny Abrahamson não consegue fugir de uma estrutura tradicional demais, sem riscos na construção dramática, sobretudo na segunda – e menos interessante – metade. Ainda assim, o realizador utiliza bem a linguagem – observe as cores dos figurinos da mãe e do filho se aproximando na medida da aproximação do desfecho -, e as duas principais atuações são muito bonitas. [3/5]

19- Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes [visto em 28 de fevereiro, no Netflix]
Os dois primeiros projetos – este e Snatch – de Guy Ritchie dotavam de um brilhantismo notável. Uma imersão envolvente no lado mais sujo da cultura britânica, trilha sonora deliciosa, uma dinâmica de lei de murphy divertidamente aplicada às jornadas de seus protagonistas e, claro, um sensacional trabalho de montagem. Saudades deste realizador promissor. [5/5]

20- Seis Graus de Separação [visto em 29 de fevereiro, no Netflix]
Tão instigante quanto a teoria da comunicação na qual se baseia, e com uma interpretação memorável da Stockard Channing, embora possua uma linguagem por vezes excessivamente teatral. [3/5]

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