O cheiro ocre da corrupção
nos tapetes caros do Alvorada
denuncia, em meio à podridão,
do que se fez a riqueza da pátria amada.
“Sou capitão do exército,
minha especialidade é matar.”
Não sei curar ninguém, ele disse,
e em economia não sei palpitar.
Se vossa excelência soubesse
do que tenho feito Brasília,
duvido que em sete mandatos coubesse
a incompetência dessa família.
Aqui já teve ministro juiz
que com honestidade seletiva julga.
Que péssima escolha eu fiz
queria a justiça surda, cega e muda.
Em ternos caros fechamos acordo
com empresário, banqueiro, empreiteira.
“Tem que vender essa porra logo!”,
ministro batendo nossa carteira.
Direitos humanos com preconceito
da família pobre, homo e parda.
Meninas de rosa, do meu jeito,
e meninos de azul ou usando farda.
A atriz que parece demenciar
na cultura que não tem ministério,
além de salário, tem pensão militar,
e carrega nas costas um cemitério.
Pelos estudantes com futuro ferido
que lutam por uma realidade melhor,
não assuma sua culpa ou correrá perigo
de ser demitido ou algo pior!
Ao senhor olavista eu pergunto,
como pode ser sem educação e boçal?
Alunos gritam a ti em conjunto:
“corrija a balbúrdia gramatical!”
Na falta de saúde ouvimos entorpecidos:
SUS e Previdência privados, nossa sina!
Nos velhos e menos favorecidos
vamos socar cloroquina!
Para limpeza étnica e social
quero mandar todo mundo pra rua.
Foda-se mão de obra essencial,
minha ideia eugenista perpetua!
E que poema pacífico é esse?
Ainda é pouca a violência desse país!
Quem dera a educação sobrepusesse
o sangue que escorre até a raiz.
Desde as tribos indígenas,
massacradas pelos bandeirantes,
até nossas florestas queimadas.
Quem dera eu notasse antes!
Fiquem tranquilos, as listas são grandes
não paramos nos índios não!
Também temos Dorothy e Chico Mendes,
além do coronelismo do Sertão.
Inclusive estamos bem servidos,
do Massacre dos Carajás.
Aqui os Sem Terra são inimigos,
pois Brasil é dos marajás.
E daí, quer que eu faça o quê?
Pra mim é mais um que morre.
Para combater miséria e crime,
bora esterilizar gente pobre.
O suor frio nas palmas das mãos
ao pesadelo que o sono interrompe,
denuncia o terror da escravidão
pelo medo que aqui corrompe.
Corrompe porque o silêncio é mais fácil,
ou porque o tráfico é a única opção.
Corrompe porque fechamos os olhos
perante a dor de toda a nação.
O sangue negro, branco e índio
e do imigrante que foge da guerra.
Tem todos uma só cor
e na morte, apodrecem na terra.
Quando houve o estopim no alto do morro
com armas nas mãos subiu a polícia
e enxergamos por fim a ponte
para o Planalto, junto à milícia.
Ao réquiem dos fuzis, ouvimos de fundo
o choro e a dor de cada dia.
João Pedro e Rodrigo, foi mal, eu confundo
com os bandidos da periferia.
Marielle e Anderson também merecem
na cabeça, pescoço e nas costas.
Como ousa, em prol dos que carecem,
vir da favela com suas propostas?
E da farda ouve-se o coro:
“não quer morrer?
Sai com a bíblia na mão
e engole o choro!”
Todo dia, com o coração na mão,
Elx sai para trabalhar de madrugada.
O medo e ansiedade tomam conta.
Quem dera Brasil fosse Pasárgada!
SOBRE A AUTORA
THAÍS K. W. TOKI – Enfermeira por formação, deixou o caos da capital e decidiu aprender T.I. na roça. Em busca de mais silêncio, lembrou-se a tempo que o barulho estava dentro de si.