De Armas e Bagagens Crítica Mostra São Paulo

Crítica: De Armas e Bagagens – Mostra de SP

De Armas e Bagagens (Idem, Portugal/Angola, 2014). Escrito e dirigido por Ana Delgado Martins.

38ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo #12

De Armas e Bagagens Crítica Mostra São Paulo

De Armas e Bagagens é um documentário português que, através de depoimentos de cidadãos angolanos que viviam em seu país em 1975, quando este entrou em uma guerra sangrenta pela independência, busca mostrar o amor que seus entrevistados nutrem até hoje por sua pátria mãe, morem hoje lá ou não. Mas por mais que essa paixão seja evidente nos rostos que vemos ao longo de sua hora e pouco de projeção, é impossível não sentir falta de imagens de arquivo que ilustrem as diversas histórias que nos são contadas.

O que há de mais interessante na história particular da independência de Angola, segundo este filme dirigido por Ana Delgado Martins, é o fato de que dezenas de milhares de angolanos simplesmente fugiram do país pelo antigo porto Namibe quando os exércitos reacionários invadiram o país, entrando apenas com a roupa do corpo – e muitas vezes separados de seus familiares – em navios caindo aos pedaços com a esperança de transferir suas vidas à terra de oportunidades que, em seu imaginário, Portugal representava.

Histórias como essa – e depoimentos como o do senhor que afirma que naquele tempo “só havia uma pessoa, Salazar; e o voto de todo mundo era em Salazar. Não havia racismo, não havia partidos, não havia capitalismo ou socialismo. Nós éramos livres” – ajudam a criar o panorama de um país subdesenvolvido que, acovardado pela “superioridade” branca e ignorante politicamente, explica todo o histórico de ditaduras sociopatas e regimes totalitários e extremamente populares que marcam a História do continente africano até dias recentes.

É impressionante, porém, que para um filme de apenas 72 minutos de duração, De Armas e Bagagens desperdice tanto tempo investindo em histórias menores como aquela que gira em torno de um grupo de fugitivos que se vê preso entre dunas gigantescas e o mar revolto e é resgatado por aliados sul-africanos no meio da madrugada, transmitindo, em diversos momentos, uma sensação semelhante à de ouvir um avô ou uma avó contando empolgados um evento que lhes marcou a vida, mas que, sem fotos ou nenhum outro tipo de registro que nos ajude a visualizá-lo, não conseguem se comunicar com seus ouvintes inquietos.

Não é para menos que uma das cenas mais emocionantes do projeto seja aquela em que o longa apresenta uma filmagem surrada feita na própria Angola durante aquele período em que uma série de homens fala brevemente (e em poucas palavras, envergonhados pelo registro e muito humildes em seu linguajar) sobre a necessidade de deixar o país por causa da guerra civil enquanto observamos a verdadeira devastação causada pelo conflito nas construções destruídas e ruas mal cuidadas ao redor.

Infelizmente, momentos como esse são raros – e na maior parte do tempo, são as cabeças falantes que preenchem o quadro durante a projeção de De Armas e Bagagens. Pelo menos, a maior parte das histórias apresentadas são minimamente interessantes para manter nossa atenção.