400 Contra 1 – Uma História do Crime Organizado

Em 400 Contra 1 – A História do Comando Vermelho, o crime é pop. Enquanto assisto a filmes assim é que me arrependo de nunca ter estudado a história do Brasil do jeito que queria, ou fico mais chateado ainda com a “demissão” de pessoas extremamente capazes e que poderiam criar excelentes textos em cima dessa forma romântica de ser apresentado às origens do Comando Vermelho. Cada pessoa escolhe o seu próprio caminho, companhias e influências, e infelizmente nem mesmo aquelas mais espertas estão livres de errar a mão e perder o bom senso. Então, peço desculpas para os leitores do Buteco, mas vocês vão ter que se contentar com um post que apenas analisa o filme e (tenta) ignorar a realidade do que aconteceu na época e como o governo afetou as origens da facção.

Para poupar comentários sobre o status pop e chique dado para os prisioneiros e essa tendência dos intelectuais em tratar bandido como “quase-herói” no cinema e na mídia, é preciso ser sincero e admitir uma certa intolerância com certos tipos. Madame Satã ganhou um excelente longa-metragem, e mesmo sendo um malandro perigoso, conseguiu cativar o público não apenas pela atuação inspirada de Lázaro Ramos, mas pelo poder e carisma do personagem. É notório que o cinema tem sempre a intenção de fazer o público se identificar com os vilões, mas o que realmente incomoda é quando resolvem passar a mão na cabeça do sujeito, jogar a culpa toda das atitudes violentas na sociedade ou tratar um ladrão como herói. Os governos, obviamente, têm sim a sua parcela de culpa, mas nada justifica um infeliz como o Sandro Barbosa do Nascimento ser considerado exemplo até hoje por defensores dos direitos humanos. Em 400 Contra 1, os personagens vivem na prisão da Ilha Grande (carinhosamente apelidada de “Caldeirão do Inferno”), e depois de dominarem a prisão e conseguirem sua fuga, passam a roubar diversos bancos na capital carioca. Como se fossem o Robin Hood do Rio. Gosto de torcer por vilões como o Zé Pequeno, Baixo-Astral e tantos outros que o cinema nacional já criou. O que não consigo é gostar de longas-metragem sobre criminosos que extrapolam a barreira da ficção e que tentam posar de bons moços. Assistir a essa realidade no cinema sem levantar nenhuma bandeira é uma coisa. Querer justificar ou engrandecer é outra.

Daniel de Oliveira é um galã, e seria praticamente impossível não simpatizar com seu personagem no filme do diretor Caco Souza. Daniela Escobar é o destaque, interpretando uma loira fatal e de uma frieza incomum. Ela atira e mata, sem ter o mínimo de piedade. Mas a melhor atuação do filme é a de Fabricio Boliveira, que arrasa em sua última cena enquanto canta melancolicamente os versos de uma canção popular. O filme não respeita uma ordem linear e vai pulando de um ano para o outro até chegar na sua conclusão. Talvez esse seja um dos principais problemas que impediram que 400 Contra 1 fizesse justiça ao seu subtítulo e contasse de verdade a história do crime organizado ao invés de mostrar apenas os “mocinhos” brigando na cadeia, curtindo a vida no morro ou roubando bancos. Afinal, onde está a história?

Não se pode falar de 400 contra 1 sem mencionar a trilha sonora. O começo da história é embalado por uma daquelas clássicas músicas da época disco. O clima lembra bastante alguns filmes do Tarantino ou o Shaft. Para os amantes desse tipo de música (eu incluso), é um prato cheio para os ouvidos. Swing de primeira categoria, e tudo isso é culpa do músico Max de Castro, encarregado da trilha sonora da produção e responsável pela melhor coisa que brota na tela durante o filme.

Claro que é interessante ter um filme que apresente para a população brasileira um pouco da história do Comando Vermelho, como começou, porque existe, o que fez, o que faz etc (apesar de que o filme não deixa claro nenhuma dessas questões) . Mas seria bem mais interessante um documentário imparcial ou que não soasse como uma forma de homenagem ao crime organizado. Ninguém precisa disso. Apesar de tudo, 400 Contra 1 – Uma História do Crime Organizado merece duas caipirinhas no nosso Buteco.