A Praia

Dificil demais assistir A Praia e não pensar imediatamente que o personagem principal deveria ter sido interpretado por Ewan McGregor. Na época das filmagens, o ator deveria estar ocupado com a divulgação dos filmes da saga Star Wars ou com outros projetos em andamento, pois só isto explicaria o motivo dele não ter feito de A Praia sua quarta parceria com o diretor Danny Boyle. Talvez os dois brigaram, sei lá, mas a verdade é que Leonardo di Caprio, por melhor que esteja em cena, não consegue superar a imagem de McGregor e acaba tirando um pouco da graça de seu curioso personagem.

Richard é um autêntico aventureiro. Viciado em adrenalina. Sempre em busca daquela coisa inédita, que o torne único. Ele é um caçador de prazer, como se auto-descreve durante o filme. Durante suas andanças pelo mundo, descobre na Tailândia um mapa que promete leva-lo para uma ilha paradisiaca e com muita maconha. Como um bom norte-americano, o franzino Richard não tem coragem de embarcar na aventura sozinho e convida um casal de franceses para lhe acompanhar. Desde o ínicio fica evidente o desejo sexual que ele tem pela sensacional Françoise, que como não podia deixar de ser, retribui.

Partem os três rumo ao paraíso. É aí que A Praia tem seus melhores momentos. As locações são maravilhosas e a sensação é de estar diante algo exclusivo para poucos sortudos. E lá existem outros moradores, os protetores desse segredo natural. Quanto ao excesso de maconha, é logo explicado que pertence a um grupo de traficantes nada amistosos. Eles tem permissão de pegar o quanto quiserem, mas se chegasse mais algum membro para a comunidade todos seriam expulsos ou sofreriam as consequências. Chegamos então onde eu queria: A Praia relata a vida de uma comunidade longe das confusões, perigos e responsabilidades da vida moderna. Ou seja, é o (quase) mesmo conceito que o diretor M. Night Shyamalan usou em A Vila (um dos posts mais polêmicos da vida do Cinema de Buteco) anos depois.

A utópica ideia de se viver em uma comunidade livre dos problemas do capitalismo, sem a correria louca do mundo atual, sem ter nenhuma responsabilidade ou contato com o mundo exterior é um tema interessante. Danny Boyle pode não ter dado sorte de explorar bem o assunto durante o filme, mas o foco era a vida de Richard e as transformações que o personagem sofre ao longo da história. Em momento algum a líder da comunidade, interpretada por Tilda Swinton, se parece com qualquer um dos líderes de A Vila. Enquanto lá o estilo de vida ultrapassado era visto como realidade absoluta, em A Praia ninguém desliga o botãozinho de que todos estão vivendo a maior ilusão de suas vidas. E como todo bom sonho, ele haveria de terminar cedo ou tarde.

Se você é fã do ator Leonardo DiCaprio, este é um de seus melhores momentos no cinema. Logo após o sucesso estrondoso de Titanic, ele realmente precisava de um papel forte e que não deixasse a sua carreira naufragar. Tilda Swinton, como viria a se tornar comum nos anos seguintes, brilha como a líder da comunidade. A crítica detonou a produção de Danny Boyle, que antes havia lançado o divertido Por Uma Vida Menos Ordinária, o clássico Trainspotting e o excelente suspense Cova Rasa (todos estrelados por Ewan McGregor e com posts no Cinema de Buteco). Pessoalmente, gosto bastante do resultado de A Praia e o colocaria entre os melhores trabalhos do diretor. Nem que seja apenas pela excelente vista (e não falo apenas da bela atriz que interpretou Françoise), este é um filme que merece ser visto.

São quatro caipirinhassssss!

Ficha Técnica:
A Praia
(The Beach, 2000)
Dirigido:
Danny Boyle
Roteiro: John Hodge
Genêro: Drama
Elenco:
Leonardo di Caprio, Tilda Swinton