Crítica: Chappie

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Além da nossa carga genética, o meio em que estamos inseridos é o grande responsável por moldar nosso caráter. Aparentemente este era pra ser a principal metáfora de Chappie, mas a ficção científica neste filme fica em segundo plano, servindo apenas de gancho para cenas de ação espetaculosas.

O filme em questão é o terceiro longa metragem de Neill Blomkamp. O diretor sul-africano nos leva de volta a uma Johanesburgo distópica, onde policiais estão sendo gradativamente substituídos por robôs autômatos e logo no primeiro ato somos apresentados a primeira metáfora da obra: a utilização de robôs programados para combater o crime como uma alusão a uma polícia repressora e autoritária. Neste tema, não é difícil enxergar influências de Robocop e O Juiz (Judge Dredd).

Rapidamente, o segundo ato do filme segue seu próprio caminho fugindo das referências e se aproximando do conto escrito por Blomkamp que gerou o argumento da produção. Mas assim como o próprio protagonista, o robô Chappie que busca de personalidade própria, o filme se perde.

As atuações deixaram a desejar. Dev Patel e Hugh Jackman, apesar de bons atores, não conseguem dar brilho aos seus personagens idealistas e gananciosos. A presença de Sigourney Weaver como a diretora da empresa TetraVaal chega a dar algum peso ao elenco, mas sua personagem é tão pouco desenvolvido em seu pouco tempo de tela que quase não faz muita diferença.

Outro destaque negativo é a presença no elenco de Ninja e Yo-Landi Visser, dois músicos que foram chamados para dar mais realismo ao filme, como o José Padilha fez em Tropa de Elite, por exemplo; no entanto em Chappie, a inabilidade da dupla de não atores depõe contra o resultado final do longa-metragem.

O único destaque positivo fica mesmo para os efeitos especiais, pois a movimentação de Chappie em tela, comportando-se e movimentando-se como um robô com a “malandragem das ruas” são bem convincentes.

Apesar do bom trabalho audiovisual futurista, ciberpunk, pós-industrial, combinados com a utilização da câmera tremida, travelings e cortes rápidos; marcas registradas do diretor, o roteiro está cheio de furos, exigindo grande suspensão de descrença do espectador em aceitar as reviravoltas na história. E o que já estava ruim, piora no terceiro ato, onde ocorrem alguns Deus ex machina, artifício reduto de roteiristas em crises criativas e pecado mortal numa ficção científica que quer ser levada a sério.

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Analisando os três filmes do diretor (Distrito 9, Elysium e Chappie), é fácil notar a grande qualidade audiovisual empregada. Entretanto também é possível perceber queda de qualidade nos roteiros de Blomkamp. Vamos aguardar para ver se os rumores de que ele assumiria um filme da franquia Alien se concretizam. Apesar do comprovado potencial e talento, o diretor precisa se firmar repetindo ou superando o sucesso alcançado pelo seu filme de estréia.