Crítica: Hiroshima Meu Amor (1959)

Uma história de amor com a Segunda Guerra como pano de fundo. Essa é a premissa de Hiroshima Meu Amor. Dirigido por Alain Resnais e protagonizado pela grande atriz francesa Emmanuelle Riva (falecida em janeiro deste ano aos 89 anos) e o ator japonês Eiji Okada, o filme marcou toda uma geração devido sua ousadia estética e inovação.

Foi um dos pioneiros no uso do flashback, misturando passado e presente de forma não linear, além de conter imagens documentais inseridas na trama, utilizando dois gêneros cinematográficos ao mesmo tempo.

Se ainda hoje Hiroshima Meu Amor não é fácil, imagine-se em 1959 (ano em que foi realizado) assistindo uma obra tão impactante e inovadora? O filme faz parte do movimento francês Nouvelle Vague, que criou uma nova estética cinematográfica, contrária a padrões cinematográficos da época, o chamado “cinema de autor”.

A produção começa com uma longa introdução mostrando os horrores causados pela bomba atômica. Em seguida vemos os belos corpos nus do casal de amantes, contrastando com as terríveis imagens anteriores. Aos poucos somos apresentados aqueles personagens, e nos damos conta, que também existem traumas e sofrimentos naqueles aparentes corpos perfeitos.

Ao longo do filme, as histórias da personagem vão sendo contadas/lembradas de forma narrada por Riva, uma personagem que não tem nome. O talento da atriz é evidente, já que o espectador depende de sua interpretação para imergir na história. A câmera de Resnais captura as interpretações de forma sútil, aliás, que câmera! Que fotografia! Um primor visual.

É interessante observar como as cidades desempenham um papel importante e representam os personagens, e Hiroshima é a representação perfeita da personagem principal. Uma cidade traumatizada, destruída, mas que se reergueu e renasceu das cinzas. Através da arquitetura (e não é à toa que o personagem do japonês seja arquiteto) é possível notar que a França representa o “velho/passado”, ao contraponto em que o Japão representa o “novo/futuro”.

Assistir a ele em pleno 2017 ainda impressiona. Indispensável para todo amante da sétima arte.