Crítica: A Torre Negra (2017)

Há muita lógica no certo receio dos fãs da série literária A Torre Negra, do escritor norte-americano Stephen King, perante a sua adaptação cinematográfica. O projeto passou por diversas mudanças, cancelamentos e adiamentos (Ron Roward e Javier Bardem foram confirmados em 2010), e os livros comportam uma história muito bela, cheia de fantasia, romance, terror e faroeste, através de grandes personagens e ligações com outros títulos de King como Salem’s Lot, A Casa Negra e A Dança da Morte.

Ao longo de oito livros, King conta a história de Roland Deschain de Gilead, o último pistoleiro do Mundo Médio, que tem a missão de chegar à Torre Negra. Em seu percurso, Roland conhece o garoto Jake, o jovem dependente químico Eddie e a deficiente física com transtorno de múltipla personalidade Odetta Holmes. Juntos, eles formam um ka-tet, que em uma definição simples, quer dizer “pessoas ligadas pelo destino”.

Sendo assim, não é surpresa perceber o apego que muitos leitores têm pela saga. Afinal, a busca pela Torre Negra é uma aventura épica. O volume IV (Mago e Vidro), por exemplo, conta a história da juventude e do amor perdido do Roland, e o volume V (Lobos de Calla) mostra uma comunidade à mercê de cavaleiros com rostos de lobo que surgem uma vez a cada geração para levar metade das crianças da região. Mas não podemos esquecer que o maior inimigo do ka-tet é Walter, também conhecido como O Homem de Preto.

King começou a escrever a saga aos 19 anos, e o primeiro volume, O Pistoleiro, foi dividido em edições de uma revista de ficção-científica na década de 1970. Intercalando com outros grandes títulos, o autor levou mais de 30 anos para finalizar a obra. Há relatos de pessoas que estavam à beira da morte e pediram para que o autor lhes contasse como seria o fim da saga de Roland e seu ka-tet, mas nem mesmo o próprio Stephen King soube responder à esta pergunta.

Ou seja, depois de muita espera e expectativa, o que temos é o filme do dinamarquês Nikolaj Arcel, conhecido pela direção de O Amante da Rainha. A primeira palavra que veio à minha cabeça após assistir A Torre Negra foi “complicado”. Complicado porque, no papel de leitora, eu me recusava a acreditar que aquele era o resultado de uma adaptação aguardada por tanto tempo. Complicado porque o trabalho do trio principal do elenco (Idris Elba, Tom Taylor e Matthew McConaughey) merece ser reconhecido e elogiado, mas não é o suficiente para salvar o filme. Complicado porque, pra mim, não parece A Torre Negra, mas sim um filme de aventura meia-boca que tem uma ou outra referência à obra de Stephen King.

Mesmo com muito potencial para ser um grande filme, o resultado mostra um roteiro acelerado e uma direção preguiçosa. Algumas cenas de ação são até legais, mas nada que mereça grande destaque. McConaughey no papel de vilão mostra grande esforço e convence, mas não é o suficiente para mostrar que a história não foi jogada de qualquer jeito.

Boa parte da narrativa centrada no Mundo-Médio fica de fora, e Jake vira o protagonista da história, passando por apuros em uma cidade grande. Ao cruzar um portal, ele vai parar em um mundo paralelo e encontra um Pistoleiro movido pelo desejo de vingança, muito longe da complexidade narrada por King.

A Torre Negra chega aos cinemas deixando em evidência, mais uma vez, a complexa diferença entre as linguagens do cinema e da literatura. É necessário reconhecer, porém, que a limitação cinematográfica não é desculpa para a falta de respeito com que o projeto foi tratado.