Hannah e suas Irmãs

(Hannah and her sisters). De Woody Allen. Com: Mia Farrow, Bárbara Hershey, Michael Caine, Woody Allen, Dianne West, Max Von Sydow.

Mais uma daquelas obras primas simples, e no fim das contas belíssimas de Woody Allen, que não falam de nada, a não ser de nós mesmos, dos homens e mulheres que vivem loucos nas cidades (no caso sua amada Nova Iorque), e que, mesmo tendo que se preocupar com trabalho, família, realizações pessoais, e coisas do tipo, querem apenas ser felizes.

É a história de uma família atípica, e, por isto mesmo interessante, cada componente a seu modo: Hannah (Mia Farrow) é uma atriz casada com Elliot (Michel Caine), que por sua vez é apaixonado por sua cunhada Lee (Bárbara Hershey). Lee vive um casamento com Frederick, mas não consegue amá-lo mais como antes, e apenas o admira pela sua capacidade intelectual (em um dos quase monólogos de Frederick sobre a sociedade contemporânea, quando é questionado por Lee sobre a necessidade de tudo aquilo, ele lhe responde: “eu só estou tentando terminar a educação que comecei a te dar a 5 anos atrás!”, com ar de superioridade). A última irmã é Holly (Diane West), ex-viciada em crack e aspirante a atriz que, frustrada com os testes nos quais nunca passa, acaba criando um bufê para festas particulares. Por último temos Mickey (Woody Allen), ex-marido de Hannah. Ele é ateu até que, por ter quase sido diagnosticado com um tumor no cérebro (guardadas as devidas proporções, já que ele é hipocondríaco), descobre que deve haver um sentido para a vida, e que precisa, de alguma forma acreditar em Deus.

Como era de se esperar, vindo de um filme escrito e dirigido por Woody Allen, as falas e as situações são ótimas a todo o momento. Mesclando momentos de dramas pessoas dos personagens (a separação de Lee e Frederick; ou a discussão de relacionamento de Hannah e Elliot, onde o maior defeito de Hannah é dito por seu marido: ela não consegue expor suas fragilidades), com um humor característico do diretor (aquele em que você não cai de tanto gargalhar, mas que fica com um sorriso no canto da boca, sabe?), como na cena em que diz o que pensa sobre inseminação artificial (bebês descongelados?) ou sobre a inutilidade dos pensadores pra quem busca um sentido para a vida (Sócrates molestava garotinhos gregos, e Nietzsche, com sua teoria do Eterno Retorno, o obrigaria a rever Holliday on Ice).

São questionamentos sobre a vida e sobre os rumos que escolhemos, bem à la Bergman (que todos sabem, é uma influência de Allen), com uma trilha deliciosa, a edição rápida e que por si só já cria momentos engraçados (comocorte da frase Tolstoy para a estátua), e a interpretação do elenco que está em ótima forma.

E no fim de Hannah e suas Irmãs, quando Holly diz estar grávida, percebemos a mensagem de Allen: “Pare de tentar fazer análise ou de procurar um sentido para a vida, é bem mais provável que seu analista fique tão frustrado que abra um restaurante! Viva sem maiores preocupações… Se deixe levar pelas possibilidades que aparecem!”. Vale a pena pra quem quer conhecer a obra deste, que é um dos maiores diretores de todos os tempos, em um de seus melhores trabalhos (que são inúmeros, diga-se de passagem).