Planeta dos Macacos: A Origem

FALAR DO APOCALIPSE É UMA TENDÊNCIA DO CINEMA ATUAL. O fim se coloca finalmente como uma perspectiva possível para o homem, e a visão do futuro não é das mais animadoras. E como o cinema, de uma forma ou de outra também é uma linguagem artística que reflete o contexto onde acontece, este tema tem sido bastante explorado (com ou sem sucesso) por diversos cineastas. Em Planeta dos Macacos: A Origem, conhecemos um pouco daquilo que, segundo os filmes originais da série não seria o fim do mundo propriamente mas o fim do mundo como o conhecemos, afinal naquele filme de 1968 há uma inversão total de papéis: os macacos estão no controle, e os humanos, subjugados a eles.

Se naquele contexto o filme tinha tons explícitos de crítica contra a Guerra Fria, o que o tornava relevante, neste prequel a relevância, mesmo que seja totalmente mercadológica, não deixa de fazer com o que o filme seja necessário: entender a origem daquele universo, de maneira orgânica, concisa e inteligente, e ainda presenciar um espetáculo de entretenimento bem feito, com um equilíbrio entre ação e coração.

Sim, em Planeta dos Macacos: A Origem, os macacos tem coração. Will (James Franco em uma interpretação morna) é um cientista que pretende encontrar a cura para o mal de Alzheimer, mal do qual padece seu pai (John Lithgow). Entre esta necessidade pessoal e a possibilidade de criar um soro que regenerasse as células do cérebro, o que seria uma descoberta benéfica para toda a humanidade, Will segue incansável fazendo testes deste soro em macacos: eles se tornariam mais inteligentes e assim o soro estaria pronto para ser testado em humanos.


Andy Serkis & César

Há além disso uma grande corporação com interesses financeiros na cura, e o interesse romântico de Will, Caroline (Freida Pinto, protagonizando a única cena desnecessária do longa, na sequência da ponte). E há também César . Ele é o verdadeiro protagonista do filme, não só por que no decorrer da película ele irá se revelar o líder da revolução símia, mas pela interpretação que lhe é dada por Andy Serkis, um ator especializado em personagens concebidos através da captura de movimentos. A verdade transmitida pelo olhar de César, que vai desde um bêbe acolhido por Will (sem que este saiba que o macaco teria herdado geneticamente traços do soro antes testado na macaca mãe) até um macaco com consciência de quê suas capacidades cognitivas estão sendo suprimidas nesta convivência com os humanos: César precisa conviver com seus iguais.


Se o filme não desenvolve satisfatoriamente seus personagens “humanos” (explico as aspas em breve) é porque o desenrolar da história se mostra mais eficiente quando foca nos macacos, e quando constrói os motivos para que a futura revolução se dê: se os homens se consideram superiores porque possuem racionalidade, o que fazer quando este privilégio passa a ser estender a outras espécies? É quando César percebe que pode ser temido, que passa a ter dimensão de seu poder. Mas diferente do que se poderia esperar de um humano, ele prefere dividir este privilégio com os outros de sua espécie. Afinal de contas, como ele mesmo diz (sim, porquê ele também fala através de gestos), macacos unidos são mais fortes.

É aqui que chegamos a algumas questões interessantes que o filme coloca, mesmo que superficialmente (afinal é também filme de ação, obrigação que consegue cumprir muito bem inclusive): se existe algum estágio primário de humanidade, ela estaria diretamente ligada ao senso de grupo, de união? A racionalidade quando se refina, traz consigo a vontade de dominar, de se aproveitar do mais fraco, de subjugar o outro? E se de repente a causa dos macacos é a que mais interessa ao espectador, isso se deve pelo simples fato de que eles são uma minoria ou por que, justamente, eles fazem uso desta nova faculdade (a razão) de uma forma minimamente… humana?

Desta forma não seria arbitrário adicionar à fórmula de Planeta dos Macacos: A Origem cérebro além do coração e da ação. Por isto o filme cumpre com louvor seu objetivo de entreter, ser duvidar da Inteligência do espectador e sem se superestimar. Recomendo.

The Rise of Planet Of the Apes (2011)
Diretor: Rupert Wyatt
Roteiro: Pierre Boulle, Rick Jaffa, Amanda Silver
Elenco: James Franco, Freida Pinto, Tom Felton, Brian Cox, John Lighthgow