Rain Man

PROBLEMAS MENTAIS SÃO TEMA CONSTANTE em filmes. Alguns tratam qualquer transtorno de forma superficial e até mesmo inconveniente. Não é o caso de Rain Man, que lança uma luz a um dos transtornos mais complexos da mente humana, o autismo.
Temos Tom Cruise na pele de Charles Babbitt, um negociador de carros usados que enfrenta a possibilidade de perder muito dinheiro, devido a suas negociatas. Em meio a essa turbulência, ele recebe a notícia do falecimento de seu pai e precisa viajar para acertar detalhes do funeral e receber a herança. Porém, tem uma surpresa ao saber que vai receber apenas um carro e que toda a fortuna do pai foi deixada a cargo de um gestor, diretor de uma instituição de saúde. Lá, Charles descobre que tem um irmão mais velho autista, o herdeiro oficial dos U$ 3 milhões. No afã de por as mãos na fortuna, Charles sequestra o irmão e o leva em uma viagem pelos Estados Unidos, a bordo do Buick 1949.

 

Barry Levinson (Sleepers – A vingança adormecida e Assédio Sexual) não fez um filme baseado no drama que o autismo pode provocar. A doença, que é pouco compreendida, faz com que seu portador crie um mundo particular, muitas vezes impenetrável, cheio de regras rígidas e rotinas bem estabelecidas. Assim, enquanto Charles Babbitt tenta forçar o irmão a se adaptar ao mundo “normal”, vemos como Ray consegue modificar a postura de Charles frente à vida. Não é um filme para se fazer chorar, mas para que todos nós possamos repensar nossas relações com o diferente, muito antes do tema “inclusão” virar moda.

Charles Babbitt, ao lidar com a rotina do irmão (segunda tem noite italiana, terça tem panquecas, a hora de dormir é às 23h, ele não anda de avião ou sai na chuva, por exemplo), e com seu entendimento literal do mundo (o “don’t walk” signfica mesmo parar de andar, mesmo que vc esteja no meio da rua quando há a mudança de sinal de trânsito) acaba por perder a paciência e gritar: “esse seu autismo é fingimento, sei que você raciocina”.

 

Dustin Hoffman está perfeito na pele de Raymond Babbitt, o personagem-título. Desde o trabalho de composição do personagem, com a postura, a entonação vocal até os tiques de  Ray. É uma atuação primorosa e memorável, merecedora do Oscar de Melhor Ator. Cruise tem, aqui, uma das melhores atuações de sua carreira. Os dois estão em sintonia e não decepcionam o espectador.

Rain Man é um filme sensível, perfeito para que possamos repensar o mundo e as atitudes que tomamos com os diferentes sem, hora nenhuma, parecer politicamente correto ou doutrinador. Vale a pena assistr.
Rain Man (1988)
Direção: Barry Levinson
Roteiro: Mark Johnson
Fotografia: John Seale
Elenco: Dustin Hoffman, Tom Cruise, Valeria Golino, Michael D. Roberts, Kack Murdoch
Vencedor dos Oscars de 1988 nas categorias de Melhor Filme, Diretor, Roteiro e Ator Principal. Recebeu, também, as indicações a Melhor Direção de Arte, Fotografia, Edição e Música. Recebeu o Urso de Ouro no Festival de Berlim para Barry Levinson. O filme tambémestá no livro 1001 filmes para ver antes de morrer.