Foi Apenas um Sonho

(Revolutionary Road). De Sam Mendes. Com: Leonardo DiCaprio, Kate Winslet, Michael Shannon, David Harbour, Richard Easton, Kathryn Hahn, Dylan Baker, Jay O. Sanders, Zoe Kazan, Kathy Bates.

Relacionamentos não são fáceis de conduzir. Há inúmeros fatores que podem desencadear desde os momentos mais românticos e de cumplicidade, até os de crise mais tensa. Embora não sei odeiem Frank (DiCaprio) e April (Winslet) estão entre os dois pontos em seu casamento. Visivelmente frustrados não conseguem esconder a falta de preparo para lidar com estas frustrações (ela não tem talento para ser a atriz que sonhava ser, e ele cada vez mais se identifica com seu pai, cujo emprego medíocre repudiava quando criança), e as brigas provenientes disso são terríveis. Ao mesmo tempo, quando enxergam uma possibilidade de mudança, de fuga dessa situação, se tornam amantes novamente, cheios de esperanças e de planos. Mas tudo não passa de um sonho…

Muitos comparam Foi Apenas um Sonho à Beleza Americana (do mesmo diretor), o que não deixa de ser legítimo: no filme de 1999, Lester vivido Kevin Spacey também era frustrado com sua profissão e casamento, e vê na amiga de sua filha uma nova possibilidade para que passe a se impor como homem e ser humano, o que acaba acontecendo em parte. No caso do filme em questão essa nova possibilidade é uma viagem à Paris planejada cuidadosamente pela personagem de Winslet. É aqui que as semelhanças não com este, mas com outro filme aparecem, na minha opinião: Pecados Íntimos, outro belo projeto de Winslet, desta vez dirigido por Todd Field (superior a este, e já comentado por mim aqui!) de 2008.

Nos dois filmes temos um casal que busca uma fuga. Quando têm essa possibilidade nas mãos, as responsabilidades da vida adulta, de pessoas casadas e cujos filhos representam um peso na verdade, não os deixam prosseguir. A decepção com isso é ainda maior. As conseqüências no caso de Sarah e Brad, o casal de Pecados… é que simplesmente eles não levam seu relacionamento à diante. No caso de Frank e April pode ser algo mais complexo. Eles percebem que seu casamento não anda bom das pernas, mas não sabem o que fazer para tornar a situação melhor! Frank tenta sempre discutir a relação, racionalizar algo com o qual nem ele mesmo consegue lidar, enquanto April simplesmente tenta fugir.

Já parou pra pensar sobre as coisas que seus pais tiveram de abrir mão pra constituir uma família na qual você se sentisse acolhido, que tivesse as estruturas certas pra te proporcionar uma boa educação, convivência? Já pensou se eles são realmente realizados? Ou se ainda se amam? Se tudo não passa de aparências? Quantas vezes eles preferiram “diminuir o volume do aparelho de surdez” (fazendo uma referência à cena final do filme)?

A fala de Winslet em uma conversa com seu vizinho é muito significativa nesse sentido: “Não posso ir, nem posso ficar…”. O que parece ser uma frase simples se revela uma realidade desesperadora no sentido de que a vida de April é um absurdo. Para ela não faz mais sentido viver! Comportamentos autodestrutivos, resignação, morte… São caminhos possíveis que Sam Mendes não exita em expor.

Tá. Filme depressivo do mês, chega de falar… Assistam, tem muitos outros aspectos a ser explorados, acho que daria mais uns dois posts sobre… Mas é isso que mais me chamou a atenção sabe? A vida de casado é isso mesmo? O amor existe? Porquê eu existo? Quem criou o universo?!?! Vamos beber? 😛

(2t, guela de filmes de Oscar que é já escreveu sobre… Veja aqui. Mas desconsiderem a parte que ele diz que o tempo foi cruel com a beleza de Winslet!!)