Aniversario Macabro

Filme: Aniversário Macabro (1972)

Aniversario Macabro
PRODUZIDO NA DÉCADA DE 1970 POR WES CRAVEN, o horror Aniversário Macabro costuma ser citado sempre que há alguma discussão sobre filmes mais sádicos já produzidos na história do cinema. Saiba que apesar de fazer jus à lembrança, o longa-metragem é uma autêntica porcaria.

Se você avaliar o contexto em que foi produzido, em 1972, quando O Massacre da Serra Elétrica ainda demoraria dois anos para ser lançado, talvez possa até encontrar algo para elogiar na corajosa intenção de Craven em filmar a história desses assassinos condenados que torturam duas jovens até a morte. No entanto, ao meu ver, um filme bom produzido em 1960 continua excelente nos dias de hoje. Isso tem a ver com a qualidade do diretor, sua criatividade e capacidade de se virar com poucos (ou nenhum) recurso. E Aniversário Macabro fracassa miseravelmente nisso.

Craven parece mais preocupado em chocar o público do que contar uma boa história, consciente do nível de sadismo presente na obra. O diretor simplesmente deixa a história fluir e produz sequências no mínimo sem noção, como aquela famosa em que uma mulher arranca o pau de um personagem usando os próprios dentes. Não há nada explícito, veja bem. Apenas sabemos que foi o que ela fez. Aliás, de explícito, só mesmo a nudez das duas adolescentes.

O roteiro começa dando a expectativa de se tratar realmente de um bom filme: há uma discussão bizarra entre mãe e filha sobre usar ou não o soutien. Com um diálogo desses, até pensei que Craven poderia surpreender. Infelizmente, foi apenas um momento inspirado e solitário. O restante da obra rasteja entre atuações e cenas de péssimo gosto. Há outro momento isolado, que acentua o sadismo da produção, em que as jovens são obrigadas a transar entre si. Nudez era aceitável, mas sexo explícito não, e o que acontece é apenas sugerido para o público enquanto toca uma música suave com voz e violão. Um contraste absurdo com a violência da cena.

Se já estava ruim com as jovens sendo abusadas por quatro vilões tão expressivos quanto o time do América-MG no campeonato brasileiro, fica pior quando há uma reviravolta (que imagino ter sido considerada genial para os padrões da época, mas que parecem completamente fora do tom assistindo ao filme hoje) que transforma os vilões em vítimas. Há um pouco de Esqueceram de Mim nos momentos em que a família descobre a verdade sobre a morte da filha (e são bizarros ao ponto de resgatar o corpo e deixar jogado no sofá da sala) e se apresentam como vingadores assassinos tão crueis quanto os vilões.

Nada contra a moral apresentada de que vale mesmo a justiça feita com as próprias mãos e acima da lei. O roteiro deixa claramente o recado de que se um cara mata a sua filha, tudo bem pegar uma serra elétrica e cortar ele ao meio ou arrancar o pênis dele com os próprios dentes. Tá de boa. Há até uma engraçada inserção de um policial chegando bem na hora para gritar: “Naaaaaaão!” e só acompanhar o banho de sangue. O real problema é que nada disso é realizado com qualidade o suficiente para convencer o espectador de que aquele casal de pais simpáticos seria capaz de tamanha proeza. É como nos filmes de ação em que o pai de família que nunca pegou numa arma, começa a atirar com uma taxa de 90% de acertos nos seus tiros. É absurdo e ruim.

Aniversário Macabro é um dos principais longas de horror dos anos 70 e recebeu um remake recentemente, em 2009. Se a nova versão é melhor que a original, eu deixo para os leitores responderem logo abaixo, pois não pretendo me aventurar novamente por uma trama importante que criou e influenciou diversos “filhos” ao longo dos anos (Você é o Próximo, de 2011, pode ser citado como exemplo mais recente) , mas cuja execução é porca.