Filme: Cemitério Maldito

Cemiterio Maldito Remake
CEMITÉRIO MALDITO É AQUELE FAMOSO FILME QUE POPULARIZOU O LANCE DOS GATOS PRETOS significarem mal-agouro. O pobre gatinho é vítima cruel de uma estrada perigosa – na qual ninguém simplesmente pensou em quebrar o asfalto e fazer um quebra-molas clandestino e fica o tempo inteiro apenas aguardando a merda maior acontecer. E quando ela acontece, bem, o felino já se tornou um arauto do capeta pronto para arranhar e atacar quem aparecer pelo seu caminho.

Falando assim até dou a entender que Cemitério Maldito é sobre a cólera de um gato demoníaco, mas não é bem assim. O título original é Pet Sematary, ou seja, cemitério de animais. Ele foi criado para todos os bichinhos que morreram atropelados pelos motoristas apressados que usam a estrada próxima. Até aí tudo bem, mas existe um terreno oculto bem perto desse cemitério em que tudo que é enterrado pode voltar a vida. Mas não do jeito como era antes de morrer.

O gato é o primeiro a ser ressuscitado pelo protagonista, um médico que acabou de se mudar para uma casa à beira da estrada. O curioso é que o filho da puta havia socorrido uma vítima fatal de um acidente. Essa vítima passou a aparecer nos sonhos do médico para avisar-lo sobre os perigos do terreno em que os animais são enterrados. Como aviso bom, é aviso ignorado, o médico prefere seguir o seu vizinho (um vovô mórbido pra caramba e que daria medo em qualquer pessoa com o mínimo de bom senso) que sugere reviver o bichano.

Quando Church, esse é o nome do gato, retorna, está agressivo e com os olhos de quem não está interessado em fazer o bem para ninguém. O correto seria matar o gato de novo e ser sincero com a sua filha, mas o médico é insensível e ignora o quanto tudo aquilo era surreal. Até que o filho dele empacota. Tomado pela culpa, o protagonista decide enterrar o próprio filho para trazê-lo de volta. O que acontece é que a criança retorna como uma versão humana do Chucky, o brinquedo assassino. É assustador sim ver aquele pivete ruivo (que ressuscita com um penteado todo emo, bem digno das transformações de Peter Parker em Homem-Aranha 3) segurando uma faquinha, mas ao mesmo tempo é engraçado pra cacete ver um anãozinho ruivo querendo matar o próprio pai. É só dar uma bica no moleque, porra! Ele já está morto mesmo, é só um zumbi psicopata decidido a levar um monte de alma inocente para o inferno.

(Mas falando sério: é interessante ver a atuação e o dengo do ruivinho quando faz uma careta dizendo: “Isso não é justo”, e nesse momento temos a única qualidade inquestionável do filme inteiro.)

Incluí Cemitério Maldito na lista de produções de horror que merecem um remake porque acho ofensivo um longa-metragem forçar a mão do jeito que acontece na sequência em que Gage vai pro saco. Em nenhum universo existiram pais tão relapsos capazes de deixar uma criança de dois, três anos (foda-se a idade que o pirralho tinha, ele mal tinha pernas para conseguir andar mais rápido que uma tartaruga) consegue deixar um adulto para trás, e poxa vida! que pai é esse que fica uma eternidade olhando para a filha de tão longe. Poderia citar o visual, as atuações (que elenco, hein!) e efeitos visuais como motivos a mais para um remake ser mais que bem vindo, mas basta esse momento que ridiculariza a obra de Stephen King e brinca com a inteligência e o bom senso do seu espectador – mesmo os que viram na época.

Ainda assim, Cemitério Maldito é citado até hoje como uma das melhores adaptações da obra de King para os cinemas e um dos principais filmes de horror dos anos 80. Justamente pela premissa sinistra de nos colocar na pele dos protagonistas e imaginar se seríamos capazes de não tomar as mesmas decisões para recuperar nossos entes queridos.