O Nevoeiro

(The Mist) De Frank Darabont. Com: Thomas Jane, Marcia Gay Harden, Laurie Holden, Andre Braugher, Toby Jones, William Sadler, Jeffrey DeMunn, Alexa Davalos, Nathan Gamble, Sam Witwer, Frances Sternhagen.

Há muito tempo não via um filme de terror (atual) tão bom quanto O Nevoeiro. Nada de fantasmas de garotinhas, ou serial killers. Aqui o diretor Frank Darabont fala de monstros, que assustam mesmo sem ser toscos. Mas cuja crueldade (se é que seres irracionais tem essa qualidade) não se compara a do homem.

O roteiro foi adaptado do conto de Stephen King pelo próprio diretor (que também dirigiu as adaptações do escritor em Um Sonho de Liberdade e À Espera de um Milagre), e conta a história da população de uma cidade que nunca sabemos exatamente onde fica, mas que percebe numa certa manhã, estar envolta num misterioso nevoeiro. Aos poucos o perigo se revela e cada um se cuida como pode. Acompanhamos então um grupo de pessoas que fica presa num supermercado. A dúvida dá lugar ao pânico quando (numa cena assustadora) descobre-se que a névoa esconde seres desconhecidos, mas famintos e perigosos. Só os resta se abrigar no local até que uma solução apareça. Se é que isso é possível.

Aos poucos o isolamento e o contato com o outro revelam o que há de mais perverso no ser humano (a história guarda semelhanças com Ensaio sobre a Cegueira nesse sentido). Fanatismo, descrença, desconfiança. A perda de controle sobre as situações pode ter conseqüências inimagináveis (o cartaz do filme já prenuncia isso).

Nos identificamos com os personagens na medida em que são apresentados e, mesmo que alguns tenham pouco tempo em cena, vê-los morrer não é nada agradável. Não só devido à perfeição dos efeitos gráficos que criam monstros realmente aterrorizantes (não estou exagerando, deu medinho), mas ao roteiro hábil quando os aproxima do espectador, quando os humaniza.

Com relação ao elenco, destaque para o protagonista (e que protagonista hein?) Tomas Jane como David, que demonstra tensão à medida que a trama decorre, dando lugar à necessidade de manter o controle, já que está acompanhado pelo seu filho pequeno Billy. Toby Jones também ganha espaço como um homem que mesmo aparentemente inofensivo mostra sua força quando necessário. E Marcia Gay Harden sempre competente com sua Sra. Carmody. Religiosa ao extremo, sempre pronta a condenar o outro, nunca exagera, embora o papel quase exija dela isso. A cena da morte por ela incentivada é mais chocante que qualquer massacre que os monstros do filme possam ter feito.

E o final do filme, é desesperador. Do que somos capazes quando nem nossa dignidade nos resta?

Ao lado de Cloverfield, O Nevoeiro mostra que filmes de monstro blockbuster podem ser muito bons e competentes. Basta que os realizadores neguem o convencional.