Crítica: Desajustados (2016)

AO VER O TRAILER DE DESAJUSTADOS, acreditei que se tratasse de uma comédia, mas o filme islandês é um drama envolvente e mostra a solidão no mundo atual através do tímido Fúsi (Gunnar Jónsson, que está também no ótimo Ovelha Negra). Ele é um homem que sofre em silêncio com o bullying que se manifesta através dos seus colegas de trabalho. Em muitos momentos, a humilhação pela qual o personagem passa é revoltante e nos faz querer tirá-lo dessa vida ingrata.

Fúsi mora com a mãe e segue uma rotina sem grandes emoções. Come no mesmo restaurante todas as semanas, liga para a mesma rádio todos os dias e tem apenas um amigo, com quem compartilha a paixão por reconstruir batalhas da 2ª Guerra Mundial.

As coisas mudam quando ele conhece duas pessoas bem diferentes, Hera, uma garota encantadora e curiosa que se torna vizinha de Fúsi. Ela precisa de companhia porque fica muito sozinha enquanto o pai trabalha. Hera é uma personagem de sentimentos puros, é espontânea e sincera. Fúsi gosta de sua companhia e tenta agradá-la. Percebemos, em certos pontos, a inocência do protagonista.

Desajustados 2

Sua intenção é tão boa que ele não percebe a maldade com que suas ações podem ser vistas. Isso pode trazer uma reflexão a respeito do mundo em que vivemos. Afinal, somos informados diariamente de casos terríveis e atrocidades cometidas contra crianças, então quando encontramos alguém disposto a ser um amigo leal de uma garota inocente a primeira coisa que suspeitamos é que o adulto tem segundas intenções. Esse é o retrato cruel do mundo em que vivemos, da realidade em que somos obrigados a sobreviver e da natureza do ser humano.

A outra pessoa que entra na vida de Fúsi é Sjöfn, uma mulher que adora flores, independente e sorridente. Ela dá ao tímido rapaz a atenção que ele não costuma receber de muitas pessoas. Porém, tem seus próprios e complicados problemas emocionais.

A jornada de Fúsi a caminho da vida adulta não será fácil, mas todos nós precisamos sair da zona de conforto para evoluirmos como pessoas. Pode ser doloroso, mas também pode ser esperançoso, como o filme mostra. Estamos condicionados a sofrer com a solidão, apesar de sempre estarmos em busca de novas ferramentas para estimularem o contato com outras pessoas. Um dos grandes problemas da atualidade é nos sentirmos sozinhos mesmo quando temos muita gente ao nosso redor. Talvez seja uma consequência da busca pelas novas ferramentas, mas o que importa é o que uma única pessoa pode nos causar ao entrar em nossas vidas. Sua permanência pode ser curta ou longa, mas o que ela nos ensina pode durar para sempre.