Enterrado Vivo


Ryan Reynolds amadurece a cada nova chance de estrelar um filme. Não importa se ele precisa enlouquecer numa casa e querer matar a família ou ser o secretário de Sandra Bullock: ele é um ator com a carreira em alta e que não tem medo de encarar desafios e responsabilidades. Uma prova disso é que o ator encarnará Hal Jordan, também conhecido como o herói Lanterna Verde no novo filme da DC Comics. Esses dois últimos anos estão sendo decisivos na carreira do ex-marido de Scarlett Johansson e o ator mostra a cada filme que tem talento de sobra para mostrar que seu talento não se resume à beleza e títulos de homem mais sexy do mundo.

Poucos são os atores que suportam encarar (e vencer) o desafio de estrelar filmes como Enterrado Vivo, onde existe apenas um personagem por mais de 90% da história. Recentemente Sam Rockwell tentou a façanha com sucesso em Lunar. George Clooney já experimentou um pouco dessa sensação de “quase-solidão” em Solaris, mas nenhum dos filmes citados consegue compreender o espaço (com o perdão do trocadilho) que Paul Conroy (Reynolds) tenta assegurar enquanto se comunica desesperadamente com o FBI para conseguir sair de dentro da caixa onde foi enterrado. Ryan Reynolds e o roteiro de Chris Sparling caíram como uma luva nas mãos do estreante diretor espanhol Rodrigo Cortés. Não fosse a atuação de Reynolds, que consegue transmitir angustia, raiva, medo, impaciência e sufoco, Enterrado Vivo não seria um dos longas mais interessantes do ano passado. Mesmo com a jogada genial de reduzir os orçamentos com as locações se resumindo a um caixão (dizem que foram usados sete caixões diferentes durante as filmagens), o roteiro precisava de um jovem ator para fazer o link com o espectador.  Nada melhor que um belo ator envolvido com um personagem tão repleto de defeitos, que poderia ser qualquer um de nós.

O enredo se desenvolve através das ligações que Paul faz para sua família (que nunca atende), para seus empregadores, o próprio sequestrador e o FBI. Mas Paul sabe que ninguém pode ajuda-lo e é apenas uma questão de tempo até o ar dentro da caixa acabar ou ele ser soterrado pela areia. E a cada momento que passa, cada vez que acende o isqueiro, seu tempo diminui. Enterrado Vivo é uma aula de claustrofobia no cinema e dificilmente irá enfrentar algum concorrente à altura. Mar Aberto pode até chegar perto no nível de tensão, mas por mais angustiante que seja encarar toda a imensidão sem fim do mar, pelo menos você pode enxergar, coisa que depois de um tempo poderia ser fatal para Paul. O curioso é perceber a falta de escrupulos e humanidade das empresas envolvidas no resgate do personagem e na empresa que o contratou como motorista no Iraque. Abandonando qualquer intenção sentimental com a iminente morte de um de seus vários funcionários, provando assim o descaso com a mão de obra humana e barata. Paul Conroy chega à triste conclusão de que somos todos descartáveis e nada importa quando os interesses políticos estão envolvidos. Nem mesmo a vida de um inocente cidadão.

Um suspense contagiante e que mexe com os brios do público. O slogan de Alien – O Oitavo Passageiro combina (quase) perfeitamente com a situação narrada na trama: o famoso “Ninguém vai ouvir seus gritos no espaço” pode ser substituído por “Ninguém vai ouvir seus gritos por baixo da terra”. Enterrado Vivo marca a estreia do diretor Rodrigo Cortes e fornece toda a base para que Ryan Reynolds continue no seu caminho para ser um dos astros mais quentes da próxima década.