Entre Segredos e Mentiras


RYAN GOSLING, SEU SAFADINHO, quem foi que disse que você poderia deixar de viver o bom moço para viver um delinquente mais uma vez? Já não bastava aquela coisa meio estranha com o Michael Pitt em Cálculo Mortal (brevemente teremos uma crítica dele nas páginas do Cinema de Buteco)? Pois é. Entre Segredos e Mentiras é um filme mediano que compensa quase que exclusivamente pela oportunidade conferir o ator mais badalado do cinema atual ao lado de Kirsten Dunst, que ainda me deixa anestesiado com sua performance em Melancolia.

A trama é inspirada em uma história real acontecida no começo da década de 80 nos Estados Unidos. Quando um filme diz que é inspirado em fatos desse tipo, é natural que nossa curiosidade fique atiçada e que exista um interesse natural para saber o que foi que um outro exemplar de nossa raça foi capaz de fazer. Somando isso com a química eficaz da dupla de atores, o resultado é um filme que prende a atenção do espectador facilmente.

David Marks (Gosling) é um homem suspeito de assassinar a própria mulher (Dunst), mas que nunca foi acusado judicialmente pela ausência de provas concretas do crime. O filme tenta retratar o que teria acontecido entre o casal e mostra que Marks é um homem afetado pelo suicídio da mãe, o que o transformou em uma pessoa impulsiva, agressiva e muito calculista.

Entre Segredos e Mentiras começa com uma bela história de amor, daquelas que acontecem por acaso e você simplesmente não consegue ignorar. Pessoalmente, acredito que esses relacionamentos são muito mais intensos que aqueles que se constroem lentamente. Em compensação, elas costumam acabar com a mesma intensidade que começam, ao passo de que os relacionamentos “construídos” demoram mais para se romperem. Se romperem.

Dunst dá vida para uma garota completamente apaixonada pelo marido, ainda que vá descobrindo lentamente que não sabe absolutamente nada sobre o passado dele. Tudo que ela sabe foi o que ele quis compartilhar, enquanto lentamente percebe que o marido pode não ser aquele príncipe encantado que ela acreditava existir. 

O problema é que o thriller escrito por Marc Smerling parece enrolar o espectador. Ele não demora para chegar ao ponto básico da trama, mas parece que dá umas voltas desnecessárias e que em nada acrescentam, além de criar uma personagem exótica para ser amiga do personagem Gosling, cuja importância é apenas (supostamente) desempenhar uma função e ser logo descartada. Philip Baker Hall, ator veterano de tantos filmes bons que você já assistiu, aparece para uma curta participação (que faz toda a diferença, embora também seja um personagem pouco explorado). São detalhes curiosos que poderiam ter ganhado um aprofundamento maior e criado novas direções para o filme.

Frank Langella é sempre um show a parte e não faz por menos com sua interpretação do frio e manipulador pai do personagem de Gosling. Dunst tira qualquer dúvida sobre a sua performance em Melancolia ter sido um mero acaso. Sua personagem é aquilo que ela já está bem familiarizada (afinal, interpretou um tipo parecido em Tudo Acontece em Elizabethtown), mas mesmo assim, existe uma profundidade naqueles olhares e emoções que são transmitidas. 

Certamente é um filme que consegue nos deixar incomodados e na dúvida, ainda que a produção tendenciosa tente explicar detalhadamente todos os passos do crime perfeito, que até hoje permanece sem uma resposta ou solução, enquanto o homem retratado por Gosling continua a sua vida calmamente nos Estados Unidos.