Crítica: A Mão Que Balança o Berço (1992)

TODO MUNDO JÁ OUVIU FALAR DE A MÃO QUE BALANÇA O BERÇO (The Hand that Rocks the Cradle), filme dirigido por Curtis Hanson (Los Angeles – Cidade Proibida) em 1992. Na época era uma lenda urbana nas escolas sobre babás malvadas que machucam crianças e até entre os adultos, com o temor das esposas em serem trocadas por mulheres mais jovens e atraentes. Demorei mais de 20 anos para finalmente assistir ao filme, que me deixou dividido entre ter adorado a premissa e achado o resultado um tanto perdido. Explico.

A Mão Que Balança o Berço apresenta a história de uma mulher chamada Claire (Annabella Sciorra), que contrata os serviços da babá Peyton (Rebecca De Mornay) para cuidar de seu recém-nascido. No entanto, o que Claire não imagina é que a loira está interessada mesmo em roubar o seu lugar na família e se tornar a nova senhora Bartel.

Nos minutos iniciais existe uma grotesca cena de exame ginecológico, cujos eventos desencadeiam todo o desenvolvimento da narrativa e colocam em choque as vidas de Claire e Peyton. Para uma produção de 1992, o dilema de Claire em denunciar o abuso do médico parece bastante atual, nos tempos complexos em que vivemos atualmente em que as mulheres passam a ser vistas como pessoas perante uma sociedade machista e opressora. Claire explicita o seu medo de estar enganada, quase como se o abuso sofrido pudesse ser um delírio ou culpa dela mesma. Ao tomar a decisão certa, ela se torna o alvo de uma vingativa esposa, que graças à irresponsabilidade da imprensa em divulgar nome e foto de Claire, entra na vida da família.

A Mao que Balanca o Berco

O roteiro de Amanda Silver é fraco e não consegue acompanhar a interessante premissa. Existem muitas coisas que ficam pelo ar (como é que alguém pode contratar uma babá sem as referências, por exemplo?) e ficamos com a impressão de que não há um interesse em envolver o espectador com os personagens. Curiosamente, esses personagens são bem tridimensionais e bem desenvolvidos. Até mesmo os coadjuvantes, como é o caso de Marlene (Juliane Moore em um de seus primeiros trabalhos no cinema – já mostrando um talento ímpar), parecem pessoais reais. Mas o ponto alto é tentar interpretar as motivações de Peyton.

Em determinada cena, ela afirma que apenas o seu marido a entendia. Levando em consideração o seu comportamento em relação à família Bartel, é possível imaginar que o médico estuprador conhecia e entendia a condição psicológica de Peyton, que se sentia segura ao lado dele. Com a ausência do marido, existe uma lacuna a ser preenchida pela loira e seu desejo de vingança faz com que a família Bartel seja o alvo perfeito para saciar as suas necessidades. Na história do cinema já tivemos diversas mulheres psicopatas, mas poucas vezes foram retratadas de uma forma tão interessante. Agindo meticulosamente e sem pressa, Peyton aguarda pacientemente para construir um ambiente propício para colocar seus planos em prática. Sem dúvida, o melhor de A Mão Que Balança o Berço.

No entanto, mesmo com a direção de Curtis Hanson, o longa-metragem parece ser um daqueles casos em que uma releitura moderna parece ser necessária. O potencial de terror na obra não é bem aproveitado e fica a impressão que o cineasta se preocupou mais em criar um drama sobre o conflito de poder entre duas mulheres do que focar no que era mais importante para tornar o filme especial: as ações de ter uma psicopata dentro de casa e as consequências disso. As atuações deixam muito a desejar (exceto por Julianne Moore e a própria De Mornay em alguns momentos. Sou um admirador do que Madeline Zima se tornou depois de adulta, mas puta que me pariu nessa atuação tosca dela, hein?), mas nada supera a terrível trilha sonora genérica. O plano final da produção é podre, na falta de uma melhor definição. Acabamos de ver a conclusão fatal da história e escutamos um tema de final feliz que nada combina com tudo que foi visto.

A Mão Que Balança o Berço é um belo exemplar de suspense dos anos 1990 e um prato cheio para quem aprecia filmes de psicopatas com mulheres. Não se trata de algo nem remotamente parecido com o que Sharon Stone faz em Instinto Selvagem, mas na linha da loucura obsessiva de Kathy Bates em Louca Obsessão.